Resenhas

London Grammar – Truth Is a Beautiful Thing

Trio inglês lança segundo disco soturno e climático

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Ano: 2017
Selo: Ministry Of Sound/Sony
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônica Pop Alternativo
Duração: 51:48
Nota: 3.5
Produção: Jon Hopkins, Paul Epworth e Greg Kurstin

Direto dos verdejantes campi da universidade inglesa de Nottingham, chega o trio London Grammar. Na ativa desde 2009, os sujeitos se caracterizam por uma abordagem Eletrônica e climática do que entendemos por Pop Alternativo hoje em dia. Isto significa dizer: canções soturnas, revestidas por instrumental eletrônico que tangencia o R&B atual, pegando emprestado algo de Pós-Punk oitentista e climão Trip Hop, especialmente via Portishead. Funciona, mas tem um porém: é repetitivo e cansa a beleza do ouvinte menos engajado. Digo isso porque essas bandas costumam ter uma legião fidelíssima de fãs, que se descabelam e perdem colágeno nos shows, o que é normal em termos de Pop e diversão. A questão é que todas as letras falam de sofrimento, tristeza e o instrumental, sempre calcado em teclados atmosféricos, pianos e bateria sutilíssima, não varia de uma canção pra outra. Sendo assim, este segundo álbum dos sujeitos, Truth Is A Beautiful Thing é bom? É. É chato? Pode ser.

A estrela do grupo é a bela cantora Hannah Reid, que soa como uma mistura de Florence Welch com Annie Lennox, o que significa, em linhas gerais, dizer que a menina canta muito. Seu timbre oscila entre o contido e o sensual, dando às canções algumas tonalidades interessantes e diferentes do que estamos acostumados a ver por aí. Hannah é mais discreta que Florence e não tenta soar como uma fadinha elemental saltitante, ela é produto de um cosmopolitismo elegante, sendo, ao mesmo tempo, uma semidiva cantante em potencial e uma menina que a gente pode encontrar no metrô, a caminho do trabalho, com a cara lavada, óculos escuros, cabelo puxado pra trás. Isso é legal e confere essa dimensão terrena, que se faz necessária quando falamos de desilusão. De que adianta ver uma deusa olímpica falando de problemas do cotidiano? A conta não fecha.

Este segundo álbum do trio pretende ser mais plural. A presença de três produtores, entre eles, Paul Epworth, que assinou todos os álbuns de Adele, mostra que London Grammar quer atingir mais e mais mentes. Se a ideia é manter o espectro sonoro entre o sombrio e o redentor, com explosões e implosões de pianos e timbres de guitarra, a coisa está bem próxima do ideal. O problema, repito, é a pouca alternância de climas entre uma faixa e outra. Pouco há além do que já descrevemos aí em cima. A coisa só começa a mudar na sétima faixa, Non Believer, que tem uma levada mais convencional de bateria e uma sensação razoavelmente arejada. O mesmo pode ser dito da canção seguinte, Bones Of Ribbon, que parece levantar sua cabeça para fora de uma nuvem e vislumbrar um pouco de céu azul, ainda que seja no inverno. Nada contra discos que se fecham em climas e sombras, mas há necessidade de um mínimo de nuances para dar a impressão de que o artista entende do que está falando.

Nesses tempos de audição digital online, vale algumas dicas: procurem pela versão deluxe do álbum, disponível nas boas plataformas de streaming do ramo, na qual é possível ouvir a versão interessante do trio para Bittersweet Symphony, sucesso noventista de The Verve. Além dela, é possível conferir alguns ótimos remixes para faixas disponíveis no álbum. Oh Woman, Oh Man ganha nova vida com as releituras de Tiga, numa versão mamútica que ultrapassa os oito minutos de duração, cheia de batidas e variações. O mesmo pode ser dito de Big Picture, que renasce em versões de Gui Boratto e Lindstrom, entre outros. Fica a dica para uma nova participação de Bonobo, como no álbum anterior.

Se você gosta de The XX, provavelmente vai se esbaldar no turbilhão em câmera lenta que London Grammar oferece aqui. Na verdade, este é um disco que fica devendo mas que terá seu lugar no colo dos admiradores.

(Truth Is A Beautiful Thing em uma música: Oh Woman, Oh Man)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.