Um belo timbre, empostação correta da voz e inspiração de um casamento feliz definitivamente não fazem verão no segundo disco da inglesa Lucy Rose, Work It Out. Também não fazem um inverno desencorajador, daqueles que nos impelem a desejar outra estação. Frio ou calor, definitivamente, não delimitam emocionalmente o álbum, que se pendura pela moderação excessiva e desperdiça o talento da compositora.
Rose é reconhecidamente uma cantora que não espera sentada. Juntou uma coleção farta de canções, e empunhou violão, guitarra, piano e bateria em diversos momentos da gravação. Seu alicerce artístico, portanto, é independente e proativo. Infelizmente, aos ouvidos, a prática não corresponde à teoria: as estruturas das canções são monotonamente regulares; a produção limpa de arestas que dariam mais legitimidade às origens faça-você-mesmo de Rose e, num todo, a voz, bela e delicada, se perde em um emaranhado sem fim de doçura prolongada. Os respiros de ousadia aparecem sobretudo em Shelter e Köln, empoderando as letras e os arranjos. Like an Arrow é outra feliz opção, e talvez seja aquela que faz jus ao momento positivo que Rose afirma estar vivendo.
Pop bem feito e muitas vezes cantarolável é garantido em Work It Out, tanto nos hits Our Ways e Till the End quanto em Cover Up. Pode satisfazer aos anseios mais imediatistas da indústria musical, mas esmaece no imaginário por não estabelecer relação emotiva com o ouvinte, seja de regozijo ou de melancolia.
Apresentada ao público como backing vocal na banda Bombay Bicycle Club, Rose tem arranque de voz e material criativo suficientes para assumir um protagonismo no Pop contemporâneo. A manutenção desse posto, porém, tem muito a ver com a capacidade de ela se desembaraçar destemidamente sobre os próprios talentos e fazer deles uma experiência memorável, sujeita a falhas – e também, a elogios.