Sentir Que No Sabes é o novo álbum de Mabe Fratti, artista guatemalteca radicada no México. Este é o seu terceiro lançamento em apenas oito meses, e, para alguém cuja produção sempre foi centrada na música experimental, na ambient e no drone, talvez esse seja o exemplar que apresente a intuição pop mais afiada.
Não que o aspecto experimental, eixo central da música de Mabe Fratti para começo de conversa, esteja de fora deste trabalho. Mas Sentir Que No Sabes começa com uma referência ao rockstar Lenny Kravitz e termina com uma citação à pintura moderna angustiada de Paul Klee. Essa confluência é engraçada porque a música de Fratti é contemporânea no sentido que articula muitas influências vindas de épocas distintas, uma colcha de retalhos que caracteriza o modo de fazer música que só é possível nos dias de hoje. Mabe Fratti é música clássica, é jazz, mas é também música na vanguarda do experimentalismo latino-americano.
E embora existam muitas referências cabíveis para tentar contextualizar a música de Fratti, ela imprime uma fórmula própria naquilo que faz. É possível ouvir John Cage nas células melódicas e nas pausas repentinas. Há muito do experimentalismo de Arthur Russell, mas há também algo orgânico tal qual a música das atuais Nilüfer Yanya ou Marika Hackman. Enfim, podemos pensar em tanta coisa que é irônico o fato de que, ainda assim, nada disso vai conseguir descrever, circunscrever e definir do que se trata Mabe Fratti.
É possível visualizar a musicista no centro de uma espiral, tocando violoncelo e cantando com voz doce e aveludada, a partir de onde se alastram pedais de efeito, que vão tornando o som produzido por ela em algo atmosférico. Outros instrumentos aparecem – percussão, trompete, guitarra, e assim por diante –, mas apenas adicionando texturas, pontuando algumas inflexões aqui e ali. Ondulações graves reverberam, e a doçura pop de sua voz, cantando sempre em espanhol, acalenta os ouvidos com uma música carregada de idiossincrasias.
A música de Sentir que No Sabes é feita para envolver o ouvinte e, como o próprio nome do disco sugere, confundir os sentidos – a razão e a intuição acabam despistadas uma pela outra; ideias e sons e sensações se superpõem. Não é música para aeroportos, é, ao contrário, o próprio turbilhão de vento que transporta o ouvinte para fora do tempo-espaço, deslocada do mundo, em um universo sonoro próprio e muito particular.
(Sentir que No Sabes em uma faixa: “Oídos”)
