Mac DeMarco é um sujeito idiossincrático. Seus trejeitos, formas de expressão e naturalidade parecem peculiares à sua própria essência, assim como a sua sonoridade. Muitas vezes, é difícil separar a personalidade do som: ambos tangenciam a falta de compromisso e a leveza de um humor sincero que leva ao inevitável sorriso no rosto por uma letra ou solo inspirado. Em Another One, o músico entrega as mesmas expectativas de timbres e levadas em canções que não fogem de seus dois recentes trabalhos, 2 e Salad Days, ao mesmo tempo em que algo parece ter mudado.
O mini-álbum gravado nas pausas de sua incansável última turnê é a mostra de que o espírito do guitarrista foi afetado por um sentimento: o amor (ou a falta dele). O suposto término de um longo relacionamento colocou Mac em uma situação ímpar em sua vida – se antes ele cantava sobre como poderia melhorar seu comportamento amoroso (Treat Her Better ou Let Her Go), agora ele ri para não chorar suas mazelas. Como no cômico vídeo da melancólica Another One em que DeMarco canta com uma máscara de Michael Jackson à beira de um lago enquanto suas letras dizem que deve existir outra pessoa que sua paixão ama.
Mesmo nos momentos mais tristes, o guitarrista não perde seu espirito ácido em suas canções. Mesmo longe do experimentalismo, são sempre hits certeiros e já influenciam uma geração de novos artistas. No Other Heart é uma balada de amor com um desfecho ansioso e triste – ao final, não existe espaço no coração da sua nova paixonite e tudo parece bem, pelo menos na superfície. Os riffs do guitarrista, inspirados no outrora ídolo dos “tiozões” e subestimado Mark Knopfler (Dire Straits), retornam na canção sobre altos e baixos de um relacionamento Just to Put Me Down, faixa que segue o espírito de músicas para churrasco (“BBQ Songs”) de seu outro lançamento, o disco instrumental Some Other Ones.
O tema segue na canção mais coração aberto de sua carreira, A Heart Like Hers (“never believe in a heart like hers again”), quase uma descrença no sentimento, enquanto em I’ve Been Waiting for Her nos deixa dúvidas sobre o que realmente se passa na cabeça de Mac: ele está à espera da volta de alguém ou só está cantando de forma fantasiosa sobre a sensação de ter o coração na boca por conta de uma queda amorosa? Se em entrevistas recentes o músico coloca seus sentimentos de lado e os considera irrevelantes, chega a ser difícil, novamente, separar sua vida e personalidade de sua música.
O pequeno disco se encerra de forma melancólica, quase afirmando que o amor de Mac nunca mais retornará a ele em Without Me (“will she love me again tomorrow?/ I don’t know, I don’t think so”) – canção que segue o gosto adquirido por sintetizadores e “teclados de brinquedo” – e em My House by the Water, na qual o barulho misterioso de água é dúbio (símbolo de mudanças ou consumação da tristeza?).
De qualquer forma, se Mac está sendo irônico ou não, ele está fragilizado em Another One, mini-álbum conceitual sobre o tema do amor que não traz muitas novidades à sua sonoridade ou discografia além de ótimas canções. Ao mesmo tempo, reafirma algo que o guitarrista sempre mostrou através de entrevistas, participações em discussões no Reddit ou mesmo ao vivo: ele é humano como todos nós e gosta de encarar a vida com bom humor e sinceridade. Por isso, ao final de My House by the Water, ele diz seu endereço e convida pessoas a tomar um café lá. Talvez seja o convite para bater um papo com alguém carente ou simplesmente para dar umas boas risadas, o que é certo é que de DeMarco se consolida como um artista peculiar e extremamente fácil de se ouvir, mesmo em seus momentos mais “tristes”.
