Resenhas

Magdalena Bay – Imaginal Disk

Segundo disco do duo americano tem profundidade temática, melodias pegajosas e instrumentação vibrante

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Ano: 2024
Selo: Mom+Pop
# Faixas: 15
Estilos: Pop Alternativo
Duração: 53'
Produção: Mica Tenenbaum, Matthew Lewin

O duo Magdalena Bay, formado por Mica Tenenbaum e Matthew Lewin, é uma das bandas mais interessantes da atualidade, apresentando uma impressionante evolução sonora desde os primeiros passos. Antes de criarem música no campo do pop/synth pop, os dois músicos faziam parte do Tabula Rasa, projeto de rock progressivo no qual já demonstravam tino para composições complexas e de conceitos elaborados. Com o lançamento do ótimo Mercurial World, em 2021, eles deixaram bem claro que estavam prontos para desbravar os horizontes musicais, combinando o lado progressivo e cabeçudo da antiga banda a uma sensibilidade mais pop. Se ali tudo soava ainda como um primeiro passo (ainda que muito bem dado), agora, em Imaginal Disk, o grupo atinge um novo patamar de maturidade, em uma fusão ainda mais intrincada entre pop e experimentalismo.

Após o lançamento do primeiro disco, o duo manteve uma presença online bem forte (principalmente no TikTok) e soube usar o recurso como bom preparativo para o novo registro. Ao longo de quatro meses, o Mag Bay foi preparando o terreno a partir de singles como “Death & Romance” e “Image” – que vieram acompanhados de visuais imersivos, introduzindo um renovado universo onírico. A capa foi outro elemento visual que impulsionou a experiência auditiva: Mica com um CD sendo inserido em sua cabeça – algo que vemos “acontecer” ao longo das canções. Esses conteúdos, contando ainda com clipes surrealistas, trouxeram um misto de estranheza e fascínio, uma fusão que, de fato, norteia a obra.

O tal “disco imaginal” que dá nome ao álbum serve como metáfora para uma jornada de autodescoberta e evolução pessoal. Esse artefato (o tal CD da capa) contém uma “programação humana” que é inserida na cabeça de True, personificada por Mica, porém os arquivos são corrompidos e a “instalação” dessa personalidade falha. A personagem tem que aprender (ou reaprender) a existir no mundo, experimentando uma miríade de sensações e sentimentos demasiadamente humanos. A jornada nos leva a discutir temas universais como morte, amor, aceitação e outras questões filosóficas – mas de maneira, digamos, “leve”. E a busca por essa nova identidade é o que propulsiona tematicamente o registro.

Musicalmente, é um grande passo em relação a seu antecessor. Por mais que Mercurial World já apresentasse boa parte das bases nas quais o duo trabalha aqui, há agora maior variedade e maior coesão, além de uma imersão mais poderosa. A produção, que fica a cargo dos dois músicos, é repleta de pequenos detalhes – como os barulhos de aparelhos eletrônicos em “She Looked Like Me”. A instrumentação soa mais viva também, principalmente por Mica e Matt gravarem, desta vez, com um piano e uma bateria de verdade – o que pode ser ouvido na balada de piano “Death & Romance” (em que as teclas ficam bem à frente na mixagem) ou em “Tunnel Vision”, de percussão bastante destacada. As camadas sonoras se empilham como paredes internas de um labirinto da mente, e cada faixa consegue nos oferecer algo novo sem perder a unidade estética e conceitual que amarra a obra.

Imaginal Disk é um fascinante exemplo de quão maleável pode ser o pop – e do quão carregado de sentido ele também pode ser. O duo combina a profundidade temática da experiência humana a melodias coloridas e letras pegajosas sem que o resultado soe banal – e sem ser hermético demais. E essa combinação entre ambição e simplicidade é cativante. Fazer algo conceitual (até mesmo remetendo à fase mais roqueira de Mica e Matt no Tabula Rasa) e ainda manter o apelo pop é o maior acerto do disco – e talvez, evidenciar que o pop alternativo pode ser mainstream sem sacrificar a diversão.

(Imaginal Disk em uma faixa: “Image”)

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ARTISTA: Magdalena Bay

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts