Resenhas

Magik Markers – Surrender to the Fantasy

No meio de barulho e distorção, uma voz chama a atenção e é o fio que cativa o ouvinte do começo ao fim no mais recente trabalho do grupo

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Ano: 2013
Selo: Drag City
# Faixas: 9
Estilos: Noise Rock
Duração: 45:00
Nota: 3.0
Produção: Magik Markers

A relação entre arte e artista é análoga ao papel e à caneta. Enquanto o primeiro é a expressão, o segundo é a direção. No entanto, a escolha artística de uma pessoa, muitas vezes é mais obscura do que poderíamos imaginar. Interpretar uma pintura ou um filme é uma forma de transformar a sua interpretação em algo plausível, mas os reais motivos por trás destas expressões, talvez nunca sejam revelados. Sabemos que meios tradicionais, ou seja, diálogos, expressões verbais ou escritas, muitas vezes não são capazes de traduzir o que a mente tenta dizer, e a música com toda a sua simplicidade e alcance, é uma forma de arte que abre espaço para qualquer método ou meio de demonstração.

Se tomados pela qualidade, ou mesmo pela acessibilidade de Surrender to Fantasy, cairíamos em um beco sem saída em que o julgamento da forma inibiria o conteúdo disponibilizado pelo Magik Numbers. O seu mais recente ato, dado a pluralidade de formatos e lançamentos nos últimos 11 anos, segue a mesma ideia inicial que os tornou famosos: expressionismo via Noise Rock. Se a tradução literal do gênero parte do barulho, o som aqui não fica atrás, com guitarras descompassadas, vozes dissonantes e uma bateria que mais parece um acessório do que um meio condutor de um grupo.

Dentro de tanto experimentalismo, existe uma voz que conduz todos os momentos e é o fio essencial que aproxima mais o ouvinte do som. Sem Elisa Ambrogio, o Magik Markers seria só barulho fraco. Com a vocalista, temos motivo e razão para prestar atenção. Facilmente comparável a Kim Gordon, mas muito menos soturna e ainda mais delicada, com timbre frágil, a cantora destaca-se em diversos momentos.

Crebs é tensa e com muita distorção, mas a voz fantasmagórica de Elisa preenche os espaços da faixa, sem deixar nenhum vestígio de questionamento. A simplicidade de Act of Desperation cativa e sua gaita traduz-se em desespero no meio de guitarras quase infantis. Bonfire é um pouco mais agitada e popular, fugindo bastante da proposta inicial do disco, um Rockzão com uma bateria quase destruída. A gravação Lo-Fi é uma escolha para justificar o barulho e evidenciar que as preocupações dos artistas são mais subjetivas do que parecem aos nossos ouvidos.

Longe de se preocupar com o que poderíamos imaginar, o grupo cativa pela falta de elementos elaborados para criação de música. Mirrorless é linda com seus poucos instrumentos e Elisa abrindo o coração. Algo aqui, no entanto, chama muito a atenção. Em Empire Building, somos levados a diversos ruídos e uma voz abafada, como se cantada de um banheiro, mas com um som ao fundo hipnotizante. A música não é boa, sendo um dos piores instantes do disco. Mas como podemos justificar a expressão? Podemos sentir que a música significa realmente uma fase na vida dos artistas, o que é consolidado no gancho com Screams of Birds and Girls.

Letárgica, antiga e viajante, a canção parece caminhar para o lugar comum do Rock Alternativo, até que em sua metade a guitarra se mistura ao fundo hipnotizante da faixa anterior e tudo faz sentido. O grito de pássaros e meninas é a única coisa que une a banda ao prédio imperial. Ao final da obra, não estamos totalmente satisfeitos com a música proposta como interpretação objetiva de arte. No entanto, como expressão artística não podemos fazer mais nada além de entender que o que escutamos aqui pode ser barulhento em alguns casos, simples ou extremamente experimental, mas representa coragem e pode ser talvez um dos trabalhos mais acessíveis da banda apesar de tudo. Justificar a música só pelo som, muitas vezes pode ser extremamente simplista, e no meio de ecos encontramos a voz e o trabalho do Magik Markers.

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BOM PARA QUEM OUVE: Speedy Ortiz, Body/Head, Sonic Youth
ARTISTA: Magik Markers
MARCADORES: Noise Rock

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.