Resenhas

Mahmundi – Setembro EP

Contraventora de si mesma, Marcela aposta em estruturas eletrônicas novas e em clima sóbrio sem perder a mão para o Pop

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 6
Estilos: Chillwave, Minimal Pop, Eletrônica
Duração: 25:00
Nota: 4.0
Produção: Marcela Vale

Se existem características a serem enumeradas a respeito de Mahmundi desde que a própria tomou a coragem de iniciar seu projeto solo as prerrogativas então seriam a inquietude e o esforço pra pensar e produzir fora da caixa sem se desvincular do gênero Pop. O registro Efeito das Cores foi o primeiro exemplo acertado pela carioca em 2012, que reuniu em um rápido disco as referências que busca de fora a ritmos que respaldam em inspirações eletrônicas ointetistas através de canções fluidas, mesmo a própria atestando que sua intenção maior sempre foi fazer algo que agradasse a seus exigentes padrões de bom gosto.

Tomada inicialmente pela ideia de estrear seu primeiro álbum em 2013, Marcela Vale decidiu pisar no freio, subestimando um tanto seu potencial e lançado uma diferente faceta de suas criações através de mais um EP, desta vez intitulado como Setembro. A cantora, que foi vencedora de Melhor Hit pelo Prêmio Multishow neste ano com a canção Calor Do Amor, apresenta no último dia do mês que nomeia seu disco um lado menos conhecido pelo seus fãs, ainda mais sereno e delicado.

Se na estreia ela esbanjava a molecagem típica dos nativos do Rio de Janeiro e o molejo de hits a serem ouvidos a beira mar, Marcela agora muda de estação, veste seu moletom e apresenta o som que ressoa em seu inconsciente em um trabalho mais sério, sisudo e pé no chão. Vem, a faixa de abertura, é acompanhada de um longo suspiro logo no início, como se a própria convidasse quem ouve a tampar o nariz e mergulhar em seu novo emaranhado de sintetizadores que se associam aos sons de marimbas, abrindo o caminho também para a variedade percussiva que permanece por todo o extended play.

A voz crua e pouco rouca de Vale busca ainda mais experimentação em diversos momentos que a artista brinca com a duplicação de sua voz e o uso de autotune de maneira crescente em momentos mais tímidos como em Prelúdio e Quase sem querer e mais denso na música-título, Setembro. As bem elaboradas letras da jovem cantora e que elevam a canção a um patamar quase etéreo ainda reverberam pelo seu trabalho – Momentos como “Então eu pego o trem e atravesso a cidade, pontes da zona norte ao sul de mim” relembram passagens de faixas como Quase Sempre (“Preparei uma mesa farta. E o que sobra é a sua falta”). O mais próximo de hit do material é Arpoador, que aparenta ser familiarizado com Desaguar porém transitando num dia chuvoso ou então singrando pelo mesmo mar da praia do Leblon, mas um tanto distante da costa.

A lembrança do músico SILVA é quase imprescindível desde sempre nas estruturas sonoras de Mahmundi, com a diferença que Lucio Souza segue uma trincheira atualmente mais comercial e Marcela ainda bate o pé pelas suas vontades sonoras. Heavenly Beat, Small Black, Metronomy, Washed Out das antigas e até mesmo vagos resquícios de Youth Lagoon podem ser associados a continuidade esperta e calma da cantora que ainda deve chamar muito atenção a longo prazo e permanececer como contraventora Pop que agrada mais e mais em doses diárias de audição.

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Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.