Resenhas

Mannequin Trees – Daydream

Disco de estreia do projeto traz Psicodelia boa com referências de décadas distintas

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Ano: 2018
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Psicodelia, Dream Pop
Duração: 42:00
Nota: 4.0
Produção: Ícaro Reis

Apesar de curto, o EP auto intitulado de estreia da banda Mannequin Trees provou ser um dos retratos imersivos mais intensos e interessantes do cenário psicodélico brasileiro de 2017. Aliando uma sonoridade etérea com toques de Dream Pop lisérgico e sonoridades fantasmagóricas, o grupo conseguiu produzir um ensaio intrigante que superou os estereótipos, mas também ajudar a consolidar sua identidade. Um ano depois, Ícaro Reis e sua trupe ressurgem para colocar no mundo seu primeiro trabalho completo de estúdio que, embora já estivesse gravado há três anos, encontra agora um contexto fértil para poder proliferar o que se revela ser muito mais do que uma simples extensão do EP de estreia.

Ícaro foi preciso em dar este nome ao disco, afinal, no decorrer de sua reprodução, podemos jurar que estamos sonhando diante das possibilidades sonoras que nos são oferecidas. Daydream soube aliar sua maior duração a uma viagem mais densa e profunda do que no EP na qual ora estamos jogados sob os acasos dos reverbs e delay, ora nos encontramos em meio riffs de Rock.

Este talvez seja o grande barato do disco: de poder inserir referências diversas em um mesmo contexto, como se fosse de fato um sonho, no qual lembramos de cenas específicas mas nunca da linearidade da narrativa. Nos perdemos no meio das dez faixas, não de uma forma desordenada, mas de uma forma que em que podemos nos sentir à deriva das intenções das músicas e é difícil imaginar que esta não seja a intenção do grupo ao produzir estes arranjos encantadores.

Arregaçando os delays de fita e explodindo em uma batida acelerada, Chances and Changes puxa firme as referências dos anos 1960 e nos apresenta como se tivesse sido apreendidas diretamente do túnel do passado de onde foram retiradas. Mais branda, So Long… Goodbye é um ótimo exemplo de como os arranjos de voz compostos funcionam muito como um instrumento importantíssimo para a construção desta ambientação nostálgica.

Follow Me traz um fator adolescentesco ao disco, adolescência esta que pode ser tanto da Psicodelia dos anos 70 como de um Indie Rock bem pegajoso do pós-2000. Com um sintetizador marcante e característico de muitas músicas do grupo, Hero Made Of Sand mistura aquela alegria efusiva de composições do Pop da década de 80 com estas alterações de timbres um pouco sombrias, quase como um disco da Xuxa rodado de trás para a frente. Por fim, So Close, Yet So Far completa a experiência psicodélica em meio a sequenciadores e guitarras do Velho Oeste reverberadas.

Fazendo um passeio por diferentes décadas, Daydream amplifica a experiência do ótimo EP de estreia de uma forma que a Psicodelia aqui presente é apenas uma ponte para que outras diversas sonoridades possam ser acopladas e ressignificar suas composições. Um disco em que ganhamos mais se nos deixarmos nos perder dentro dele.

(Daydream em uma faixa: So Close, Yet So Far)

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BOM PARA QUEM OUVE: Vinyl Williams, Marrakesh, Pond

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique