Resenhas

Marching Church – Telling It Like It Is

Banda dinamarquesa tenta unir urgência Punk e influências de David Bowie

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Ano: 2016
Selo: Sacred Bones
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pós-Punk , Rock Experimental
Duração: 45:19
Nota: 2.5
Produção: Lars Rex

Marching Church é uma banda liderada por um cara chamado Elias Bender Rønnenfelt, dinamarquês de nascimento, anglo-americano em termos musicais. Elias já teve bandas em sua Copenhague natal, nais quais exorcizou seus demônios Punk e, de um ano pra cá, formou seu atual grupo, no qual procura dar uma passeada pelo entroncamento promovido por David Bowie em sua fase Young Americans, ou seja, em sua fase Funk/Soul de branco, na qual ele pagou tributo aos grandes mestres da Philadelphia International e, mais especificamente, a James Brown e Sam Cooke. Claro, Bowie fez isso se apropriando dos conceitos e ideias e chegou a algo novo. Elias tenta fazer a recriação desse processo, trazendo tudo para o século 21, injetando doses de urgência guitarrística e vocais gritados/climáticos. O resultado é este segundo trabalho do grupo, Telling Like It Is.

Com essa descrição, fica difícil conter o entusiasmo para ouvir o álbum, certo? O resultado, no entanto, fica no meio do caminho. A banda é boa, Elias é um vocalista acima da média, as boas intenções estéticas estão por toda parte mas o molho desanda irremediavelmente por não conter um ingrediente capital: boas canções. O sujeito e sua turma podem ser o máximo da vanguarda, a última bolacha do pacote, a derradeira Coca-Cola no deserto em termos de invenção e originalidade, se não houver boa melodia e boas letras, não há como qualificá-los para o debate. É o caso desta safra de dez canções que Marching Church entrega para seus ouvintes. Os arranjos são legais e criativos mas a maioria das faixas não decola e/ou se perde em equívocos. Mas não é um caso perdido.

O problema, além das canções não serem lá essas coisas, está também na necessidade que Elias tem de demonstrar técnica e intensidade vocais em todos os momentos possíveis. A abertura, com Let It Come Down, é um exemplo: num clima lento, ele se sobrepõe ao instrumental e à própria canção, parecendo às vezes que disputa a atenção do ouvinte com o resto da banda. Esta impressão vai por água abaixo com a canção seguinte, a boa Up For Days, que conjuga influências oitentistas e as revisita com bom trabalho de guitarras e teclados. Aqui a voz do nosso amigo está mais contida e jogando pro time, assim como em Heart Of Life, logo em seguida, com aura Punk esclarecida, no sentido Elvis Costello do termo. A impressão da disputa de atenção entre vocal e instrumental ressurge com força em Inner City Pigeon, mais lenta e arrastada, com destaque para o bom trabalho de baixo.

Lion’s Den e Florida Breeze são os dois lados da moeda da banda e seus problemas. A primeira é uma beleza, provavelmente a melhor faixa do álbum, com Elias cantando em falsete sobre uma levada de baixo e sopros, com paisagens apocalípticas e desoladas surgindo na mente do ouvinte. A segunda é chata, burocrática, com melodia pouco criativa, apesar de guitarras respeitáveis. Novamente Elias pega pesado na intensidade e ultrapassa os limites, mesmo caso de 2016, que até investe numa levada mais rocker, e chega a lembrar algo de U2 em seu primeiro disco, Boy, lançado lá no distante ano de 1980. A coisa não melhora com as faixas seguintes, que vão levar o ouvinte até o fim do disco: Achiles’ Heel é modorrenta e chata, Information tenta soar estranha e marcial, mas derrapa na pretensão e Calenture, uma balada Pós-Punk dramática, tem resultado menos ruim, mas ainda aquém do que poderíamos esperar.

Ficamos na torcida para que essa galera consiga produzir novas e melhores canções, bem como abrir mão do estilo e de querer soar como vã guarda e trabalhar visando o resultado final, que é o sorriso do ouvinte. Por enquanto, estão no meio do caminho.

*(Telling It Like It Is em uma música: Lion’s Den*)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.