Resenhas

Marching Church – This World Is Not Enough

Projeto do vocalista do grupo Iceage se perde em seus objetivos, mas traz alguns bons momentos

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Ano: 2015
Selo: Sacred Bones Records
# Faixas: 8
Estilos: Post-Punk, Experimental
Duração: 49:00
Nota: 3.0
Produção: Marching Church

A crônica de um projeto paralelo muitas vezes se resume aos mesmos elementos: membro de uma banda famosa decide unir forças com outras músicos para poder explorar outras sonoridades. O resultado, no entanto, tende a ser volátil – enquanto pode ser muito assertivo, pode ser também inexpressivo ou simplesmente o resquício do que já havia dado certo anteriormente (logo, redundante). Marching Church segue o meio termo dessa análise e peca por não ter o zelo necessário para alcançar vôos maiores.

O projeto liderado por Elias Bender Rønnelft, vocalista conhecido por seu trabalho a frente do ótimo Iceage, tem motivos um pouco nebulosos por trás de This World Is Not Enough. Em recentes entrevistas, revelou que gostaria de fazer um som que combinasse com uma imagem que tinha na sua cabeça: ele sentado, de robe dourado, em uma cadeira confortável liderando uma banda enquanto uma garota lhe serviria champagne ao seu bel-prazer. Tal definição (no mínimo auto indulgente) revela, no entanto, a fragilidade por trás de Marching Church.

Juntar-se com músicos de outras bandas dinamarquesas, como Lower e Puce Mary, para fazer uma série de improvisações em jam session, pode ser elementar, mas naturalmente algo interessante poderia sair. É isso que sentimos ao longo do disco – alguns bons momentos pontuados em algumas faixas que logo se perdem no meio do improviso, por simplesmente o objetivo final não ser o de finalizar uma canção de modo usual. A voz marcante de Elias continua vigorosa aqui e traz a dramaticidade de Plowing Into The Field of Love, principalmente nas baladas tensas que marcaram esse ótimo disco do ano passado.

A tensão percorre Up a Hill, faixa que tem as melhores inspirações em Nick Cave and the Bad Seeds enquanto Calling Out a Name é o momento mais bem estruturado do disco ao fugir da experimentação de jam para ir se moldando fluidamente ao longo de seus quase sete minutos. No entanto, outros momentos chamam atenção e desaparecem com extrema rapidez: Living in Doubt é perturbadora e cacofônica, mas se salva na linha de baixo e bateria, enquanto Dark End of The Street, cover de James Carr, é preguiçosa até que a linha de sopros traga emoção e ainda mais melancolia à faixa.

A sensação que temos, mesmo nas boas faixas Hungry For Love e na extremamente contemporânea Every Child (Portrait of Wellman Braud), é que as coisas deveriam ter sido um pouco menos apressadas e feitas com maior cuidado. Mas isso logo foge do conceito DIY da banda Punk de Elias (Iceage), assim como a sua vontade inicial de comandar uma banda “de seu palácio em seu trono”. Tal visão, paradoxal, combinada ao experimentalismo do álbum só poderia ocasionar em um trabalho com sensações mistas e a expectativa de que tudo poderia ter sido muito melhor, como a vida tende a nos dizer de vez em quando.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.