Resenhas

Marina And The Diamonds – Froot

Terceiro registro da cantora galesa mostra aura mais introspectiva e subjetiva

Loading

Ano: 2015
Selo: Atlantic
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Downtempo, Chamber Pop
Duração: 53:08
Nota: 4.0
Produção: Marina Diamandis e David Kosten
Itunes: https://itunes.apple.com/us/album/froot/id936941140?uo=4

Falar de futilidade total do gênero Pop já não é algo atual. Por muito tempo considerado um estilo musical estabelecido com um propósito integralmente comercial, ele ganhou uma nova perspectiva principalmente após os anos 2000, quando começamos a observar as primeiras experiências de letras com um cunho mais politizado e com temas considerados “menos fúteis”. Seja misturado ao Punk e disseminando mensagens de ódio ao ex-governo Bush em discos como American Idiot (2004), do trio Green Day, ou desmistificando o feminismo no último disco lançado por Beyoncé, em 2013, a questão é que ser Pop hoje já não significa tanto adequar um conteúdo a uma estética, e cada vez mais ele é usado como um instrumento para se comunicar algo maior.

É óbvio que, ao afirmar isso, entramos em um campo muito subjetivo, afinal as pessoas se interessam por temas diferentes e seria muito simplismo afirmar que o Pop é uma linguagem universal que une todos os ouvintes. Entretanto, o que está em jogo é a liberdade temática e, nesse quesito, Marina And The Diamonds é o exemplo perfeito disto.

Froot marca o amadurecimento da cantora. Não que seus outros discos fossem fúteis ou superficiais, afinal seu primeiro trabalho (The Family Jewels) trouxe uma alternativa bem produzida às divas Pop hiper-reproduzidas na rádio. Entretanto este disco é um aprofundamento de Marina como compositora e intérprete, à medida que o tema central é ela própria, seja em um mundo interiorizado ou analisando a realidade em que ela vive. A partir deste dois cenários, a cantora se sente confortável em dividir suas impressões com seu público e isto acaba mostrando uma sinceridade ímpar, que nos toca e nos diverte de maneiras diferentes. É um disco auto-investigativo, ao mesmo tempo que nos fornece ferramentas suficientes para entender o que acontece dentro da mente de Marina, e isto se revela interessantíssimo.

Temos uma face já conhecida da cantora e um lado que já havia sido apresentado em momentos anteriores, mas não explorado como agora. O lado conhecido de Marina é o que ela te põe para dançar, produzindo canções agitadas com refrões extremamente chiclete e com instrumentações potentes e bem articuladas. O single que dá nome ao disco mostra isto de forma direta: com sintetizadores oitentistas, batidas dançantes e a eclética voz, que tem um alcance vocal fantástico. É a parte que tende a captar a atenção dos fãs mais antigos da compositora, apreciadores do segundo disco, Electra Heart, produzindo ótimos hits como Blue, Forget e Better Thant That, que ora mostram a conhecida produção Eletrônica, ora mostram uma ambientação mais acústica que não por isso se mostra menos dançante.

Mas o que dá ao álbum o caráter de obra mais madura da compositora é sua face antes tímida e agora, mais presente. Marina usa de músicas mais calmas, quase que em Downtempo, para criar ambientações belas, profundas e mais sérias. São nestes momentos que a cantora explora os temas mais interiores de sua persona, como existencialismo (Immortal), idealismos românticos (I’m A Ruin) e até mesmo um manifesto contra a cultura de estupro vigente em muitos registros Pop (Savages). A excelente produção de David Kosten e Marina cria um ambiente propício para a manifestação das impressões da compositora, sem o qual a mensagem do consciente e subconsciente de sua mente não seria possível ser comunicada com tanta clareza e beleza.

Marina And The Diamonds usa de sua experiência como artista Pop para criar uma nova relação com sua música, de forma a criar um universo rico e bem articulado todo centrado em sua pessoa. Um ótimo momento na carreira da compositora e uma grande oportunidade para não perder o show que ela fará nesta edição do festival Lollapalooza.

Um registro sobre a complexidade e universo ilimitado de nossa mente. Um amadurecimento maravilhoso de se escutar.

Loading

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique