Matheus Torreão apareceu há pouquíssimo tempo em nossa coluna Ouça, sendo apresentado junto ao seu Compacto, título da obra que reúne três faixas e abre caminho para um futuro álbum completo que está no forno.
Matheus vem no trilho de Clarice Falcão, fundindo um humor irônico nas letras e na escolha de suas “roupas”. Adeus Meu Rock’n’roll canta em tom conformista sobre a morte do gênero, concluindo sem muito entusiasmo que “antes ele do que eu”. Ironicamente, Torreão faz conscientemente esforço algum para mostrar o contrário, escolhendo elementos que quase satirizam canções poucos inspiradas do Rock nos últimos anos.
Frevo da Aposentaria, como diz o nome, usa o ritmo pernambucano para narrar uma tentativa frustrada de compor uma canção de amor. Meu Caro Amigo traz acordes de Caetano Veloso para uma narração em tom confessional onde um amigo narra a outro a ocasião em que não contou uma experiência homossexual por medo das reações que poderia receber. “Eu tive medo do juízo, logo eu, tão instruído. Como pude ver sentido no segredo?”, diz na letra.
Ao contrário de Clarice, Torreão usa uma graça menos autodepreciativa e mais parecida com situações de filmes de Woody Allen ou Wes Anderson, onde o absurdo das situações é ligeiramente além do nível de normalidade de seus personagens (a expressão apática do músico no clipe de Adeus Meu Rock’n’Roll e sua coreografia improvisada sugerem ainda mais esse tributo, talvez inconsciente, a Wes Anderson).
Acompanhado de um Exército de Bebês (a banda que estará com ele em seu futuro álbum – apesar da imagem literal ser mais engraçada de imaginar), Torreão pode trazer ainda mais misturas dentro do mesmo contexto, fazendo uso desta premissa para se beneficiar (e consequentemente nós também) de uma abrangência de estilos.
(Compacto em uma música: Meu Caro Amigo)
