Mahamadou Souleymane, também conhecido como Mdou Moctar, é um músico de 40 anos de idade, natural de Tchintabaraden, que agora chega ao sétimo álbum de sua carreira, intitulado Funeral for Justice. Com um trabalho marcado pelo desgosto da injustiça colonial que se abate sobre o Níger, Mdou Moctar, com um turbante Tuareg tocando guitarra elétrica no meio das areias do deserto, encarna a figura que o rock precisa para sobreviver. Mais ainda do que isso, Mdou Moctar e outras bandas da África setentrional atualizam e recontextualizam a revolta e o senso de estilo que estão na origem do estilo musical.
No entanto, é estranho pensar em termos europeus ou americanos para definir a música de Moctar. Não dá para falar de “rock” simplesmente ao tentar descrever o que ouvimos aqui porque, apesar da guitarra elétrica que estamos acostumados a associar com valores ocidentais, a sua genética é africana. Funeral for Justice exibe uma música feita com senso de comunidade, feita para ser executada principalmente ao vivo, com muito mais acentos de Joseph Kamaru e Francis Bebey do que Van Halen ou Judas Priest, por exemplo, de onde vem referência para a arte de suas capas.
A principal marca da música de Mdou Moctar é a visão decolonial, o que é fácil de compreender, já que a França abandonou suas bases militares no Níger apenas no ano passado, mas ainda continua sugando recursos do país. E é entre explorações, golpes de estado e, enfim, a condição da geopolítica que muda a sua figura, mas nunca abandona a sua verdadeira essência exploradora, que Moctar canta em sua língua natal: “líderes africanos, ouçam a minha pergunta inflamada, por que é que os vossos ouvidos só prestam atenção à França e à América?”.
Em Funeral for Justice, Mdou Moctar toca guitarra com rapidez, sincronizado com seus companheiros de banda. O BPM acelerado e o auto-tune na voz deixa tudo com um aspecto mais afiado, com notas ricocheteando pelas paredes, a sua música soando como navalhas fustigando o ar. Por um lado, sua música é repetitiva e induz ao transe, mas por outro é também música feita para inflamar os ânimos.
Com seu discurso, mas principalmente com suas notas e timbres, Mdou Moctar mostra ao mundo a contundência do que tem para dizer. A música é a mensagem: Funeral for Justice faz política não apenas com o que diz, mas com as notas musicais de uma guitarra que viaja o mundo na velocidade do som.
(Funeral for Justice em uma música “Imouhar”)