Formada em 2007 na cidade de São Paulo, Memórias De Um Caramujo faz desde sempre canções de gente grande. Trazendo instrumentalizações, melodias e letras que beiram o vanguardismo, o quinteto chega com Cheio de Gente, seu mais novo álbum, mais um exemplo disso.
Diferente de muitos nomes atuais da música “popular” brasileira, que caem para o Pop ou por músicas de fácil digestão, Memórias De Um Caramujo, assim como Juçara Marçal e Castello Branco, trazem alma e uma entrega – mesmo que de diferentes tônicas – de grande beleza às suas composições e possuem um meio de externar isso muito devido a belíssima voz e interpretação de Beatriz Mantone como nas canções Caminho de Volta e seu arranjo instrumental com um toque épico, e Rio, com seu “refrão”, por assim dizer, que nos faz repetir “quente como água corrente” mentalmente.
Sem cair em clichês – para além das letras – os músicos André Vac, Gabriel Basile, Gabriel Millet (que chega a nos lembrar a voz de Toquinho em alguns momentos) e Thomas Huszar demonstram belo domínio em seus instrumentos, o que resulta em apresentações naturais e amplas – para além do mais do mesmo de escalas já manjadas e arranjos simples – para nós ouvintes. Tal feito só torna o disco ainda mais aprazível de se ouvir, pois, além da sonoridade natural que se tem, esperamos para saber o próximo movimento, o próximo acorde e som que virá.
Assim, desde nos contar sobre um pai contando histórias de fadas para sua filha que se perde em meio a inúmeros pensamentos diversos na desenfreada Nina; e sobre o massacre banhado em sangue dos índios latino-americanos na grandiosa Potosí; Memórias De Um Caramujo nos dá um álbum musicalmente – no sentido total da palavra – rico e muito bem executado por seus membros.
Cheio de Gente é um disco para se ouvir para além dos ouvidos e nos deixar descobrir todos os seus pedaços em cada uma das – não poucas – audições que daremos.