Resenhas

Metronomy – Love Letters

Novo trabalho dos britânicos é mais sentimental e calmo que o esperado mas mesmo assim é bonito e interessante

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Ano: 2014
Selo: Because Music
# Faixas: 10
Estilos: New Wave, Pop, Indie Rock
Duração: 42:00
Nota: 3.0
Produção: Metronomy

Você dificilmente nunca ouviu Metronomy. Seu último disco, The English Riviera, possivelmente rodou e rodou na minha vitrola, ao mesmo tempo em que baladas tocaram sucessos como The Bay, The Look e Everything Goes My Way. Carregado de hits, levaria o grupo britânico a um status jamais imaginado, ao mesmo tempo em que permitiria que seu famoso show – logo despontando em terras tupiniquins- fosse disputado por festivais mundo afora. Mas, além dos sintetizadores e pés na música dançante dos anos 1980, o que o grupo poderia nos oferecer?

Dentro de tantas expectativas, Love Letters, o sucessor do seu hedonista e divertido trabalho anterior, carrega a aura de sucessor de uma “obra-prima”, algo que certamente irá prejudicar as suas primeiras audições. O quarto álbum da banda não é dançante, não bebe das mesmas influências e, dentro de sua discografia, é possivelmente a sua obra mais Indie e confessional feita até hoje. É também extremamente orgânico, deixando de lado os famosos sintetizadores e beats dançantes para utilizar-se com autenticidade de guitarras e belos riffs. Logo, esteja preparado ao se debruçar neste psicodélico disco.

A capa rosa com toques sessentistas, bebendo da fonte de LSD e companhia, nos dá a impressão de que caminharemos por lados mais viajados. Os clipes lançados para promover a obra, Love Letters dirigido pelo pai do Brilho Eterno, Michel Gondry e I’m Aquarius, tem na temática lisergica daquela época o seu ponto de intersecção. O título, Love Letters é um convite à paixão e ao amor, no entanto, as letras de um maduro Joe Mount demonstram uma temática inversa: A da decepção amorosa e das mazelas presentes em romances. A calma introdução de The Upsetter já nos coloca a questão: “Why are you giving me a hard time, tonight?” em meio a um emotivo solo de guitarra. O vocalista indaga logo de cara o sofrimento dentro de um relacionamento, expondo em sua abertura uma versão inesperada do Metronomy.

O primeiro single, I’m Aquarius nos parece mais compreensível ao longo da audição do disco. Seus versos conflituosos colocam o sucesso de seu trabalho anterior em cheque: “but I never paid attention to my charts”, enquanto o signo transeunte e confuso determina: “I can love it, I can leave it, cause I am aquarius, I’m not gonna say, I’m not gonna do”. A faixa inteira aborda o fim de um relacionamento que teve envolvimento através de alianças, tanto físicas quanto amorosas, e que parecia escrito na estrelas. Seu desfecho triste é só mais uma demonstração de que o disco está longe do impeto de dança e concentra-se mais em um estado desolado de Joe.

Love Letters demora para subir o tom, seu clima ameno é a ressaca da Riviera Inglesa, aproveitada com muito sol e gin & tônica. Monstrous segue o mesmo estado: “Hold it tight to everything you love, honestly is the only thing I care about” em meio a um teclado simples e uma construção bem crua. Mesmo a faixa título, único grande hit e single despontável para as pistas, inicia-se com uma orquestração de sopro bastante melancólica até que sua explosão em dança surge no horizonte. Normalmente quando o principal chamariz do grande público consiste na música que carrega também o título do disco, temos um problema.

Em um primeiro momento, tal constatação será adotada, entretanto a continuidade de audições nos mostra um trabalho feito para outros momentos. É o pós-festa, o lamento de uma noite que deveria ter acabado mais cedo, um relacionamento que poderia ter tomado outros rumos. Nos vemos pensando na vida em um dia chuvoso enquanto toca Call Me ou The Most Immaculate Haircut belas músicas com toques leves de Psicodelia e bastante letargia. O grande problema da obra é a constante busca por uma explosão, um crescimento ao longo de sua duração que não vem.

Ele surge encoberto em uma faixa instrumental, Boy Racers, momento que demonstra um virtuosismo exarcebado do quarteto, ou na ensolarada Month of Sundays que traz destaque finalmente aos backing vocals da baterista Anna Prior. The Reservoir surpreende por sua divertida aura Lo-fi dançante já nos momentos finais do disco, enquanto Joe versa a respeito dos desfechos posteriores de seu relacionamento: “You wish you never said that we drifted far, you wish we take a trip to the reservoir”. O falsete auxiliado por um sintetizador crescente é o auge aqui em um faixa que nos remente os primeiros trabalhos do grupo. Never Wanted termina o disco, entretanto, de forma bastante melódica na faixa mais natural e orgânica aqui. Nua e carregada de sentimento, é o momento mais viajado do disco.

Evidentemente, Love Letters caminhou em uma direção totalmente inesperada para quem esperava um lado mais dançante e semelhante com seu trabalho anterior. Metronomy e Joe Mount mostram aqui, porém, que o sucesso recebido parece ter tido um impacto inversamente proporcional aos relacionamentos vividos em um disco carregado de sentimentalismo e melancolia pós-termino amoroso. As cartas de amor retratam o desfecho e os acontecimentos dentro de uma paixão vivida e não são direcionados a conquista mas sim ao desabafo. Calmo e sereno, o álbum parece ser o acompanhamento para momentos que o grupo parecia não encaixar-se antigamente, o que é bom. Entretanto, a falta de um hit além da faixa título pode nos levar ao esquecimento ou a um impacto menor do que o esperado. Ao final, nos vemos escutando-o de forma pontual em cada música, ao invés de absorve-lo do começo ao fim. Mesmo tímido, o vocalista acabou realizando um belo disco Indie, mas que pode assustar quem estava esperando as vibrações anteriores de sua banda.

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BOM PARA QUEM OUVE: The xx, Wild Beasts, of Montreal
ARTISTA: Metronomy
MARCADORES: Indie Rock, New Wave, Pop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.