Só de olhar os nomes das músicas, fica claro que Metronomy quis que Small World, seu sétimo álbum, entrasse para a coleção de obras lançadas durante a pandemia do covid-19. Em nove faixas, a obra comenta as sensações de viver em um mundo que se transformou da noite para o dia, com saudosismo por um passado tão próximo e a vontade de sorrir em um futuro que só tarda. De tudo o que pode ser sentido nessa realidade, o disco opta pelo otimismo.
“Life and Death”, “Things Will Be Fine” e “It’s Good to Be Back” formam a sequência inicial do disco e ditam o clima da obra tanto em sua estética, quanto na proposta de imaginar o “fim disso tudo”, o momento quando os sorrisos acontecerão sem o peso da pandemia – sabe-se lá quando. São canções de uma leveza sincera, de sonhos com os pés no chão e os olhos atentos ao que é possível. Não temos aqui aquele Metronomy que cantava com alguma ironia, que queria te fazer rir enquanto dança.
Tudo isso fica ainda mais evidente a partir da quarta faixa, “Loneliness on the Run”, talvez um dos momentos mais “sóbrios” de Joseph Mount e companhia até hoje. Ele canta em um volume mais baixo, a música tem cara de jam. Não é o clima festeiro de The English Riviera (2011), nem aquela introspecção só de fachada que ouvimos em Love Letters (2014), muito menos a diversão em alto volume do ainda recente Metronomy Forever (2019). A melancolia compartilhada por todo o mundo nesses anos pandêmicos chegou também à banda, que abraçou essa realidade. E é por isso que seu otimismo soa tão sincero.
Quando chega “I Lost My Mind”, com letra simples e piano lamentoso, o ouvinte já sacou o grau de identificação que o álbum propõe. É a história de todos os que atravessaram a turbulência emocional desses dois anos e ainda dão um jeito de sorrir, nem que seja apenas pela esperança de uma vida parecida com aquela de antes. “Hold Me Tonight” (com participação da banda Porridge Radio) e “Love Factory” estão aí para abrir as cortinas de alguma felicidade que ainda resta, enquanto “Right on Time” resgata os timbres, o ritmo e a vibe daquele Metronomy de dancinhas discretas.
Com menos elementos e cara de feito à distância, o novo álbum do Metronomy ressoa um otimismo que muitos julgam impossível para os dias atuais. Suas letras são baseadas em repetições, como o tempo que não passa desde 2020, e suas emoções, cruas como temos vivido. São boas canções que se distanciam do Metronomy de antes sem perder suas cores e seu coração, mesmo em uma realidade tão cinzenta.
(Small World em uma faixa: “Things Will Be Fine”)