Resenhas

Miêta – Dive

Banda mineira transforma angústias em energia para construir primeiro álbum

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Ano: 2017
Selo: PWR Records, Howlin’ Records
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Garage, Shoegaze
Duração: 44'
Nota: 3.5

Feminismo, força, medo, vivência, abuso, dor e afeto. Esses são os principais temas que flutuam sobre as dez faixas de Dive, primeiro álbum de estúdio do grupo mineiro Miêta. A simbologia na composição da banda é forte. No fronte, as mulheres Célia Regina (guitarra), Marcela Lopes (baixo, vocais), Bruna Vilela (guitarra) tratam de um tipo de poesia angustiante (e linda). Enquanto isso, nos fundos, Luiz Ramos (bateria), ajuda dar projeção a essa narrativa.

Nesse mergulho, todos os membros digerem e afogam a dureza do cotidiano em cada verso. A produção do disco submerge junto e cria a ponte perfeita com a temática que permeia todo o trabalho, trazendo para a superfície sensações intensas e amargas, quase como um último fôlego, de tão urgente.

As influências variadas do disco refletem no som denso da banda: vai do Shoegaze ao Pop, anos 1980 e 1990, Sonic Youth, Dinosaur Jr., DIIV. Já o contraste “mais suave” fica por conta das estruturas de cada música que te leva às profundezas de sentimentos bem particulares. Por exemplo, Messenger Bling precisa de apenas dois versos para abrir o disco e cravar a aura de certeza que paira sobre o masculino (“He’s just right, isn’t he?/Popping in the right corner of my eye”). Já na faixa que leva o nome do disco, a sensação é a de descer alguns metros água abaixo e se afogar na analogia de ser um peixe, muitas vezes não vistos nas profundezas do oceano.

Pet foi a escolhida para abrir as portas para a experiência audiovisual de Miêta. Com assinatura de Jonathan Tadeu, o vídeo mostra a libertação — tanto do corpo quanto da mente—, de um relacionamento abusivo em festa. Aliás, a simbologia explícita faz paralelo com o nome da faixa e serve como um lembrete a todas as mulheres quando reforça que ser o animal de estimação de alguém nunca é uma opção.

A Gente Não Consegue Terminar, única das dez músicas cantada em português, soa como expurgo das consequências que um relacionamento mal engatado podem causar. Aqui, a depressão e ansiedade se materializam em um quarto claustrofóbico, inclusive tem essa ideia reforçada pela própria banda (“Alguns silêncios sempre dão um jeito de permanecer/Ecos em quartos vazios”).

Dive é um disco sobre a vivência e autoconhecimento do que ser mulher acarreta. Às vezes nos encontramos no fundo, achando que conviver todos os dias com dor, medo e ansiedade faz parte da vida. Por mais que o fundo seja escuro e desconhecido, sempre há a superfície onde podemos respirar. Miêta é um bom exemplo disso: transforma angústias em energia para construir um belo trabalho.

(Dive em uma faixa: Room)

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BOM PARA QUEM OUVE: In Venus, Rakta, Ema Stoned
ARTISTA: Miêta