Resenhas

Moderat – III

Terceiro ato relembra sua trajetória e costumeira qualidade sonora em formato mais Pop

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Ano: 2016
Selo: Monkeytown
# Faixas: 9
Estilos: IDM, Eletrônica
Duração: 42:00
Nota: 4.0
Produção: Moderat

O longo processo que culminou em III, terceiro ato do grupo eletrônico Moderat, faz total sentido quando enxergado sob uma ótica determinista. Formado por membros dos projetos Apparat e Modeselektor, ambos oriundos de Berlim, a “banda” transitou entre diversos gêneros – assim como seus membros – o que explica o aspecto mais Pop que marca seu novo lançamento. Se antes podíamos considerar a voz de Sascha Ring como o escape instrumental para sonoridades predominantemente Eletrônicas em I e II, agora ela é o ator e principal ponto focal para o trio.

Tal transição pode ser entendida pela própria mudança da cena Eletrônica de Berlim, epicentro cultural transitivo que explica como dois grupos com abordagens musicais distintas – Apparat fazia Techno para depois partir para sons ambientes, enquanto Modeselektor passou do Hip Hop ao IDM – poderiam formar um som coeso e característico quando unidos. Ouvir III é entender as mudanças ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, perceber o direcionamento rumo ao grande público. Se o disco como um todo pode ser considerado Eletrônico em sua abordagem, batidas, ritmo e elementos comuns, também pode ser considerado Pop como James Blake e The xx muitas vezes são: através da melodia minimalista.

No entanto, o trio segue uma estética sombria – comum ao longo de sua carreira – e acaba por entregar o disco definitivo para que o Moderat seja definido em ambientes mais populares. Longe de ser entediante, temos um trabalho idiossincrático que abusa dos ganchos de voz sensuais com pegadas Soul de momentos anteriores. Eating Hooks, por exemplo, é facilmente reconhecível como uma faixa do trio, seja na batida concentrada na caixa, em sua levada minimalista ou na melodia cantada viciante. Em outros momentos, vemos tais comparações surgirem novamente como em Ghostmother ou Running – suprassumo da música Eletrônica, feita para explodir em pistas escuras.

Algumas faixas explicam o caráter ainda mais Pop do trabalho, criações exarcebadas para se tornarem hits – e com potencial para isso-, como Ethereal ou Intruder. Ambas são épicas e crescentes, e têm todos os ingredientes para figurarem em alguma ação publicitária. Agradam e trazem um público novo, mas nos fazem lembrar de um elemento que faz falta em III: as faixas instrumentais. Temos somente Animal Trails e Finder para aliviar a voz muitas vezes repetitiva e uníssona de Sascha Ring, nos fazendo lembrar que, nos discos anteriores, o instrumentalismo era predominante e foi deixado como pano de fundo para as melodias Pop encontradas aqui.

Talvez a escolha sonora de usar Sascha Ring, agora extremamente confiante, para chegar no Pop tenha dado certo e diversos hits tenham sido criados, como a excelente The Fool – faixa com um dos melhores drops do ano. Dentro da carreira do grupo e diante da constante evolução vista na cena Eletrônica de Berlim, faz total sentido tal partida para vôos mais altos. Ao mesmo tempo, o trabalho pode ser um pouco enjoativo, justamente pela pegada que Ring impõe a algumas canções. No entanto, alguns poucos alívios instrumentais e ganchos dentro de faixas cantadas nos fazem lembrar como o trio está acima da média quando nos referimos a produção de Eletrônica – agora, mais do nunca, feita em alta escala e abraçando novos horizontes.

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BOM PARA QUEM OUVE: Jamie xx, Four Tet, James Blake
MARCADORES: Eletrônica, IDM

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.