Resenhas

Moons – Dreaming Fully Awake

A banda convida o ouvinte entrar na casa onde o disco foi produzido com músicas intimistas e metáforas despretensiosas

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Ano: 2019
Selo: Balaclava Records/Fleeting Media
# Faixas: 9
Estilos: Indie, Indie Folk
Duração: 35'
Produção: Leonardo Marques

O clipe de “Inside Out” traz imagens do acervo de família de um dos integrantes da banda Moons filmadas na mesma casa em que Dreaming Fully Awake foi produzido – a mesma retratada na capa do álbum. Dessa forma, o vídeo parece carregar consigo as principais pistas para desvendarmos a obra: o senso de familiaridade por um lado e o processo de gravação pelo outro. Quando digo “familiar”, me refiro a muito mais do que a uma referência direta ao conteúdo da faixa citada (que narra o divórcio dos pais do vocalista e compositor André Travassos). É que há, ao longo das nove faixas, versos e mensagens de assimilações fáceis, uma universalidade reconhecida mesmo nas músicas mais narrativas. Existe nelas uma intenção de intimidade, percebida na temática reflexiva de versos como “Às vezes sou complexo/ Às vezes sou profundo/ Como qualquer ser humano”, canta em inglês na abertura “Nobody but Me”.

Por outro lado, os questionamentos podem em momentos soar vagos, talvez pela predileção por cantar em uma língua estrangeira. Estrofes como “You taught me the sky has no ceiling/The end is the beginning of something new/And if you need to cry let tears wash your eyes/Don’t feel shame” (“Guilty Pleasure”) denotam um certo deslumbramento com o idioma de modo que as metáforas, de fato, nem sempre chegam com toda sua potência. Em paralelo, há grande familiaridade também nas estéticas Indie e Folk pela qual as músicas navegam. Os timbres e arranjos evocam desde nomes atemporais do estilo, como Elliott Smith, a outros mais atuais, como Cigarettes After Sex. As inspirações reverberam o Dream Pop de vez em quando (como em “Sweet and Sour”), uma Psicodelia suave em outros (na faixa-título) e leva o ouvinte a uma Califórnia construída pelo nosso imaginário em faixas como “Earthquakes”.

Há ecos também de projetos como Broken Social Scene, banda canadense cuja essência carrega semelhanças com a maneira com que Moons se organizou, reunindo músicos que conhecíamos de outros projetos de Belo Horizonte. E é aí que chegamos a como a produção de Dreaming Fully Awake está baseada em seu próprio processo. O som abafado e caloroso das músicas passa a sensação de um grupo ensaiando em casa, embora a maneira minuciosa com que cada instrumento ocupa o espaço sonoro distancie o disco de qualquer cara de jam.

Ainda assim, a alma da obra reside na reunião dos músicos e nas trocas que tiveram durante o tempo compartilhado no local retratado na capa e no clipe. E essa dinâmica resulta em um envolvimento muito maior do que os versos, quase sempre com um teto de significado não tão alto. Se escutado com bons fones de ouvido, o disco transporta o ouvinte para a sala onde as músicas foram gravadas. Dá para sentir a luz incandescente fraquinha, o tapete embaixo dos pés e a energia criativa fluindo entre os membros da banda. Experiência verdadeiramente intimista com os músicos.

(Dreaming Fully Awake em uma música: “Guilty Pleasure”)

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ARTISTA: Moons
MARCADORES: Indie, Indie Folk

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.