Resenhas

Mumford and Sons – Babel

O sucessor de “Sigh No More” segue a mesma proposta espiritual e espirituosa da estreia da banda britânica em músicas grandiosas e inspiradoras

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Ano: 2012
Selo: Island
# Faixas: 12
Estilos: Folk, Folk Rock, Indie Folk
Duração: 52:10
Nota: 4.0
Produção: Markus Dravs

Babel é o certeiro segundo passo da Mumford & Sons no caminho que ficou estabelecido com sua estreia, Sigh No More (2009), de criar canções espirituais e espirituosas capazes de facilmente emocionar e elevar o humor do ouvinte, quer ele seja levado à reflexão pelas letras ou apenas embalado pelo Folk contagiante da banda.

A experiência adquirida no intervalo entre os dois discos levou Marcus Mumford e os três outros músicos a apostarem em seus pontos mais fortes para confeccionar a nova obra, mais uma vez sob a supervisão de Markus Dravs, que produziu também o primeiro álbum. Com isso, o poderoso vocal de Mumford, que oscila entre o sussurro e o berro com a mesma intensidade emocional, e a energia conseguida na interpretação das composições, ainda que relativamente com poucos timbres, são os dois pontos mais altos da produção.

Essas duas características agregariam muito menos valor ao todo se não aparecessem justamente a serviço das letras. Esse é um dos pontos nos quais o grupo mostra saber dar continuidade à tradição Folk. Assim como o mestre Bob Dylan e outros mais recentes, como Sufjan Stevens, fizeram, os versos da Mumford and Sons propõem o ponto de equilíbrio entre o mais espiritual e o mais humano.

Para isso, a Bíblia serve novamente como uma das fontes de inspiração, evidenciada em diversas faixas como Babel (“Cuz I know my weakness know my voice/but I believe in grace and choice”), Below My Feet (“I was told by Jesus all was well/So all must be well”) e Whispers in the Dark (“In my weakness I grew strong”). A outra “musa inspiradora” continua sendo o próprio cotidiano, a vida prosaica em constante colisão com o sagrado, como o homem dialoga com o que sente, pensa e crê – como um desabafo da própria fé.

A tal energia da banda fica muito evidente logo no início do álbum. Suas primeiras faixas são quase intimidadoras de tão grandiosas, mas, ao longo do repertório, os violões vão ficando mais intimistas e convidativos, com a voz de Marcus mais perto do microfone e um clima que parece ter feito para o ouvinte se sentir à vontade para cantar junto, como se sua resposta fosse o toque final às músicas.

Enquanto Sigh No More praticamente contava uma história sobre esperança, com alguns versos muito parecidos ou idênticos repetidos ao longo da obra, Babel opta por não ter um “refrão” em comum entre suas faixas, mas por propagar a mesma vibe emocional e intensa em todas elas. É uma proposta arriscada, já que o resultado poderia tanto parecer “forçado”, quanto ficar cansativo.

No geral, a missão foi bem cumprida, principalmente pelo alto nível de qualidade das músicas: Below My Feet e To Darkness, agora rebatizada Broken Crown, são duas velhas conhecidas do público que ganham suas lindas versões definitivas, enquanto Lover of the Light tem tudo para ser o grande hit do fim do ano ou de 2013 e algumas preciosidades saltam aos ouvidos após algumas audições, como Reminder e Not With Haste, que encerra a obra com a otimista conclusão “And I will love with urgency, but not with haste”.

“Babel”, no hebraico, significa “confusão”, enquanto a cidade citada na Bíblia e na faixa que batiza o disco é a que, conta a história, foi cenário da desastrosa tentativa do homem chegar a Deus por forças próprias. Mais uma vez, Mumford and Sons usa da força de sua música para nos inspirar a encontrar paz na confusão que é a tentativa de viver em acordo com a fé. E que atire a primeira pedra aquele que não se contagiar por este trabalho.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.