Resenhas

Mura Masa – R.Y.C

Com menos convidados famosos e mais intimista em sua produção, Mura Masa tenta entender as agruras da juventude britânica em novo registro

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Ano: 2020
Selo: Polydor / Anchor Point Records
# Faixas: 11
Estilos: Pop Eletrônico
Duração: 37’
Produção: Mura Masa

Em 2017, o jovem Alex Crossan teve sua estreia explosiva no mundo da música atacando sob o codinome Mura Masa. Seu álbum de estreia auto-intitulado era um exemplo expansivo e cosmopolita da nova música britânica. Com convidados de peso como Charli XCX, A$AP Rocky e Damon Albarn, só para citar alguns, Crossan demonstrou um talento precoce e ambicioso, explorando suas artimanhas enquanto produtor.

R.Y.C, o segundo trabalho de sua discografia, aponta para o caminho oposto. O acrônimo do título significa Raw Youth Collage (Colagem Crua da Juventude), e sua proposta parece ser muito mais intimista que a do antecessor. Abrindo mão de convidados com tanto peso gravitacional, Mura Masa parece convidar apenas alguns amigos – músicos aparentemente com a mesma idade da sua e pertencentes ao mesmo círculo social – para passar uma tarde despretensiosa na sala de sua casa. 

As letras em R.Y.C soam como filosofias espontâneas, ou melhor, comentários que circunscrevem as dores de ser adolescente. A produção segue a cartilha do que significa fazer música na era pós-Frank Ocean, exibindo timbres metálicos de guitarra e percussões fraturadas. Um pastiche de momentos catárticos e outros mais ruminativos dão uma certa complexidade ao disco, que não se preocupa em ser muito literal nem linear. O que se constrói é uma espécie de atlas da juventude britânica, como se Mura Masa estivesse compondo conforme assiste a uma maratona do seriado Skins.

Tudo aponta para um momento mais introspectivo e íntimo do cantor, todavia a produção feita sobre medida, que alude à melodias do Pop radiofônico de Spotify denota alguma falta de personalidade. Essa aparente tentativa de querer agradar muita gente ao mesmo tempo acaba por estabelecer um tom genérico na produção. No entanto, um certo sentimento de nostalgia pelos anos 2000 ecoa por aqui, a de uma juventude assoberbada, que remete a um desconforto Punk, de se fazer parte de uma geração sem futuro. De fato, a ansiedade das redes sociais misturada aos prospectos do aquecimento global com certeza sublinham esse sentimento de angústia de uma maneira muito particular. A alternativa de R.Y.C, o antídoto buscado por Mura Masa, é uma excelente opção: o ato de dividir a dor em comunhão com seus amigos.

(R.Y.C em uma música: “No Hope Generation”)

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ARTISTA: Mura Masa

Autor:

é músico e escreve sobre arte