Resenhas

My Grey Horse – I Still Don’t Understand

Estreia de banda inglesa segue passos de Fleet Foxes e Mumford & Sons

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Ano: 2014
Selo: Crc Music
# Faixas: 12
Estilos: Indie Pop, Folk, Pop
Duração: 46:28min
Nota: 3.0
Produção: Rob Bagshaw

Lá pelo início dos anos 2000 surgiu um tipo bastante peculiar de formação Rock/Pop, aquelas com instrumentos acústicos, pegada Folk/Country/Pop meio frenética, geralmente com canções delicadas que iam em forma de crescendo para um final apoteótico, cheio de explosões percussivas, refrãos gritados, melodias plácidas. Os sujeitos desses grupos surgiam com aparência de gente normal mas levemente modificados por algum tipo de excentricidade visual, um cabelão, um óculos à la John Lennon e a impressão de que eram criaturas estranhíssimas. Só impressão. Todo mundo urbano e de classe média seguindo seu identikit da vez, afinal, é o século 21.

Os maiores baluartes disso, para o bem e para o mal, são Fleet Foxes e Mumford & Sons, um americano, o outro inglês. A vantagem nessa sonoridade é a beleza dos instrumentais, as vozes afinadas, e, mesmo que haja uma levada psicodélica de álbum de figurinhas, a coisa vai atingindo momentos interessantes na maioria das vezes, especialmente com o Fleet Foxes. É natural que este tipo de artista já seja capaz de servir de influência para bandas ainda mais novas, caso dos rapazes de My Grey Horse, com seus cinco anos de estrada recém-completados. O pessoal é da cidadezinha de Stand Upon Avon, um buraco de pouco mais de 20 mil habitantes, perto de Birmingham, terra de Duran Duran e do Black Sabbath, pra citar os filhos musicais mais ilustres da região. Os irmãos Oobah, Peter e John Butler, junto aos amigos Tom Mott e Joe Nicklin, formaram a banda com a ideia de perseguir sua sonoridade dentro do turbilhão de grupos nesta vereda. Como a modernidade pede, além de multiinstrumentistas, os sujeitos têm conhecimento de cinema, escrevem roteiros, desenham, dominam algum nível de multimídia, possibilitando um toque atualíssimo na coisa toda, ainda que tentem soar como uma cruza de The Shins com Gram Parsons. Tá valendo.

I Still Don’t Understand é um título sobre as dificuldades que todos tem em lidar com a sobrecarga de informações da atualidade. Sempre há algo que fica no fim da fila da compreensão. Para compô-lo, os sujeitos recorreram a um movimento que também tornou-se comum hoje em dia: se refugiaram numa cabana nas terras altas e lá permaneceram por semanas, compondo, gravando, em contato com seus eus interiores e a natureza. As canções são lineares, bonitinhas, mas a abertura com Need Wood lembra imediatamente uma canção de Stereophonics, safra 2005, mais precisamente Lolita, que está no álbum Language, Sex, Violence, Other?, algo que parece ser totalmente ocasional e joga a favor, uma vez que Lolita é uma belezinha de música. O single do álbum, Days Shall Follow vem logo em seguida, com levada de banjo, bateria nervosa e vocais multiplicados em vários, desaguando em uma canção linear e bonita, com direito a clipe dos rapazes tocando instrumentos elétricos desplugados em meio a paisagens naturais e campestres.

Há várias canções bacaninhas por aqui. Waste Of Air parece algo do Wilco em início de carreira, I Lived Once Here é quase uma criação do grupo americano Grandaddy (lembra dele?), Fortunate é música de choro por alguém que se foi, John D Longlake é fofa mas o grande momento do álbum é All Those Mornings, com guitarra sinuosa, bateria saltitante e vocais entediados sobre um dia após o outro.

My Grey Horse não vai mudar o mundo e talvez dure este verão (lá fora, inverno aqui) e provavelmente é o tempo necessário para você apreciar este disco, escolher sua favorita e seguir em frente, mais ou menos do mesmo jeito de sempre.

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BOM PARA QUEM OUVE: Grandaddy, The Shins, Fleet Foxes
ARTISTA: My Grey Horse

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.