Resenhas

My Magical Glowing Lens – Cosmos

Banda capixaba estreia com sonoridade espacial feita em casa

Loading

Ano: 2017
Selo: Honey Bomb
# Faixas: 11
Estilos: Neo-Psicodelia, Rock Alternativo, Lo-Fi
Duração: 39:08
Nota: 3.5
Produção: Gabriela Deptulski

Da improvável cidade capixaba de Colatina, vem My Magical Glowing Lens, uma simpática banda praticante de sonoridades que se equilibram na fina linha que divide o experimentalismo, a psicodelia e o Lo-Fi. À frente do grupo vem Gabriela Deptulski, que canta, toca guitarra, produz, grava, cuida do som, bate escanteio e corre pra área a tempo de cabecear. Sua estreia em “álbum cheio” vem com Cosmos, que sucede EP e faixas isoladas lançadas com a ajuda da Internet, primeiramente gravadas por Gabriela em seu quarto, nas quais ela praticamente tocava tudo. Agora, com seu projeto abrangendo um conceito que sai do quarto e ousa andar no quintal da casa, Gabriela vem acompanhada do baterista Henrique Paoli, do baixista Gil Mello e do tecladista Pedro Moscarta.

Seria fácil inserir uma banda como MMGL num nicho de “hippongos que fazem música viajante e nada mais”, certo? Seria uma abordagem reducionista e imprecisa, ainda que a qualidade das gravações de Cosmos deixem claro que o grupo deve soar melhor ao vivo. O expediente do Lo-Fi é algo que pode comprometer projetos como este, cuja visão básica abrange um escopo sonoro maior, beirando o grandioso, para falar de sonhos, percepções, experiências inexplicáveis, estados alterados, tudo isso que Gabriela deseja abordar. Uma coisa é usar tais referências num EP inicial, outra é permear uma obra maior com tal visão. É legal, a gente entende, mas a dica é: procurem gravar com uma produção que consiga captar a grandeza do som. Ao vivo, quando acontece o cara a cara entre artista e público, a coisa muda, sendo desejável esta crueza e espontaneidade que a banda tem.

Sendo assim, não resta dúvida sobre a qualidade envolvida aqui. Boas composições com vocais se alternando entre português e inglês, senso melódico bem constituído, doçura na medida certa e a certeza de que Gabriela e seus rapazes sabem onde querem ir. Raio de Sol é uma canção que encapsula a proposta da banda em pouco menos de três minutos. Vocais com efeitos de eco, soterrados na mixagem em meio a teclados e baixo que fornecem um traje espacial para uso em lugares muito além daqui. A melodia mostra o talento de Gabriela como compositora, decalcando a escola Psicodélica dos anos 90/00, especialmente de gente como The Flaming Lips. Entretanto, a banda que vem à mente em termos de comparação é Melody’s Echo Chamber, devidamente despida de engenhocas de estúdio e polidez.

O single Sideral é outro ótimo exemplo do potencial do grupo. Redondo, com bom trabalho de guitarras, ele flui facilmente sobre uma melodia igualmente bem feita e vocais em inglês, mas sai um tanto prejudicado pela produção, especialmente nos timbres reservados para a bateria. Aqui as guitarras ousam emular alguma sonoridade que vai se inspirar nos climas setentistas de gigantões como Pink Floyd. Destaque também vai para a belezura de alguns efeitos de eco, velhos como a música Pop, mas que se casam bem ao todo. No fim do álbum, Madruga, com vozes em português, chega a lembrar as primeiras gravações do grupo, mostrando uma fragilidade bem vinda ao todo.

My Magical Glowing Lens é uma boa surpresa e aponta para um futuro promissor e simpático. Corrigindo alguns detalhes na produção e abraçando as grandezas espaciais, dos bichos, da natureza e das cores que derretem, a banda alçará vôos em velocidades ainda mais estonteantes. Na torcida desde já.

(Cosmos em uma música: Sideral)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.