Resenhas

My Morning Jacket – The Waterfall II

Após cinco anos, Jim James e companhia reaparecem em clima pacífico, maduro e confessional

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Ano: 2020
Selo: ATO
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Pop Psicodélico
Duração: 46’
Produção: Jim James, Tucker Martine

Em 2015, a já maturada My Morning Jacket lançou The Waterfall, que era, até agora, o último álbum de inéditas da banda. Àquela altura, o disco soava um pouco distinto de seus antecessores, porque pairava no ar algum clima de amargura, de cansaço após uma longa jornada musical. Afinal, já se somavam 17 anos de carreira para o grupo administrado por Jim James.

Na ocasião, a banda declarou ter material suficiente para lançar um álbum duplo, mas acabou tomando a decisão executiva de soltar dois discos separados, focando as atenções apenas na primeira parte dessa empreitada. No entanto, com as turnês e os adventos imprevistos de uma rotina saturada, o restante do repertório acabou esquecida, configurando uma promessa que nunca se cumpriu para os fãs. Agora, com uma pandemia que obrigou músicos do mundo todo a repensar sua trajetória, esse material vem finalmente à tona.

The Waterfall II é um irmão espiritual de seu antecessor. É uma grande vantagem que ambos tenham sido gravados e produzidos no mesmo momento: o clima se mantém e forma uma unidade sonora. Sejam vistos holisticamente ou em separado, ambos sustentam a mesma massa sonora que cai e flui para dentro dos nossos ouvidos.

A novidade, talvez, esteja na mudança de tom. Aqui a banda parece olhar para os ressentimentos do passado e faz o esforço de perdoar a si mesma. Por isso, o clima é de pacificação e maturidade, configurando aquele momento de voltar para a casa e revisar as agruras da vida que muitos trabalhos lançados ultimamente têm exibido.

My Morning Jacket sempre foi uma banda com uma sonoridade heterogênea, exibindo uma complexidade de instrumentos que caracterizou muitos projetos dos anos 2000. No entanto, se o ponto de apoio da produção antes se encontrava em algum lugar entre Neil Young e Paul McCartney, agora essa vontade de experimentar consolidou-se num estilo próximo ao de Supertramp – ouça “Beautiful Love (Wasn’t Enough)”, na qual a voz anasalada de James, somada ao clima melancólico do sintetizador e ao azedume das guitarras, condensa um tom de confissão.

The Waterfall II parece um grande acerto, principalmente por conta do timing de seu lançamento. O álbum faz uma referência ao passado e, ao mesmo tempo, preenche um vazio existencial da contemporaneidade. Enfim, soa na medida exata daquilo que (não) estávamos esperando da banda.

(The Waterfall II em uma faixa: “Spinning My Wheels”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte