Resenhas

Nala Sinephro – Endlessness

Novo disco da musicista belga-caribenha une jazz, sintetizadores e orquestrações de forma fluida e deslumbrante

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Ano: 2024
Selo: Warp Records
# Faixas: 10
Estilos: Jazz
Duração: 45'
Produção: Nala Sinephro

Muitas das melhores obras de arte, em qualquer linguagem, são aquelas que passam a impressão que todos os seus elementos se organizaram naturalmente, sozinhos. Como se não fosse necessária a intervenção humana, como se não fosse possível, ainda que por alguns instantes, que aqueles sons, cores ou formas estivessem dispostos de outra maneira senão aquela. Chega a ser irônico como grandes artistas marcam suas presenças nos grandes trabalhos por essa impressão de ausência.

Endlessness é um jardim com paisagismo refinado de Nala Sinephro, mas tem ares de mata virgem em diversos momentos. Pelas mãos da musicista belga-caribenha, o jazz, os sintetizadores e a orquestração compõem o mesmo ecossistema, cada um com sua função. A mistura de todos eles, no entanto, não poderia ser mais natural, mais fluida.

Por 45 minutos, a artista propõe uma narrativa de contemplação. As faixas, todas batizadas como “Continuum”, são como movimentos de uma só sinfonia que ora impelem a obra para frente, ora evocam temas e harmonias que acabamos de escutar. É um som envolvente e quase sempre tranquilo, mas com alguma dramaticidade que alimenta sua jornada até o clímax na última faixa.

O que fica da audição no ouvinte é mesmo o teor contemplativo. Assim como na capa de Endlessness, o disco consegue nos cercar com tudo aquilo que propõe a ser: uma obra imersiva, com trabalho estético sofisticado e excelência em todas as suas escolhas de produção – dos timbres selecionados aos desenvolvimentos das melodias.

E é aí que encontramos Nala Sinephro, artista que é tão harpa quanto synths. Ela é a mente por trás de uma seção de cordas que aparece de surpresa em determinado momento de uma faixa, ou um timbre nostálgico de sintetizador que nos faz sorrir e pensar no capacete de astronauta da capa. Do abraço sonoro desde a abertura do álbum ao despertar desse sonho no final entrópico, o disco é uma entidade viva que comunica – e confirma – a maestria de sua arquiteta.

(Endlessness em uma faixa: “Continuum 1”)

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ARTISTA: Nala Sinephro

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.