Resenhas

Navy Blue – Songs of Sage: Post Panic!

Com segundo álbum em menos de um ano, rapper nova-iorquino encontra serenidade e sossego após o pânico

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Ano: 2020
Selo: Freedom Sounds
# Faixas: 18
Estilos: Rap, Rap Alternativo
Duração: 53'
Produção: Navy Blue, Evidence, Chuck Strangers e outros

Já aos 45’ do segundo tempo de 2020, o rapper e produtor nova-iorquino Sage Elsesser marcou seu segundo gol no ano – desta vez, um golaço. Seguindo Adá Irin (2020), disco de estreia lançado em fevereiro do mesmo ano, Song of Sage: Post Panic! (2020), com participações de yasiin bey, Maxo, Evidence, entre outros, é o segundo álbum da carreira do artista sobre a alcunha musical de Navy Blue. Com apenas 23 anos, o ex-fenômeno do skate e modelo da Supreme tem se provado nos sons de maneira tão competente quanto os jogadores de futebol que admira e cita ao longo da audição de quase uma hora.

“Ronaldinho how I curve the ball, I’m Ziyech from a distance / Roberto Carlos round the problems, Henry with the finish” – é como Navy Blue se descreve na excelente “Dreams of a Distant Journey”, faixa que abre o disco. “I often rеminisce, what spirit guides a calm regrеt? / Look myself in the mirror, start tearing up as I reflect”. Assim como Earl Sweatshirt –  para quem Navy frequentemente produz –, MIKE, MAVI e outros nomes da mesma geração do renascimento do underground nova-iorquino, Sage tem profundo interesse pela autorreflexão e a escavação nas grutas do espírito. Com a consistência do trabalho desses artistas, já podemos afirmar que a introspecção é o núcleo desse subgênero que está surgindo – assim como o coke-rap, encabeçado por nomes como Freddie Gibbs e Pusha T, tem a obsessão pela temática da cocaína, ou o trap tem pela a vida luxuosa. Em meio a temas recorrentes, o que afasta os artistas da repetição é a habilidade criativa do MC de, com figuras de linguagem, dar sua própria abordagem aos assuntos. Em Songs of Sage: Post Panic! Navy cumpre muito bem essa missão. De maneira semelhante a jogos roguelike, escavando em masmorras cada vez mais profundas, ele encontra como recompensa as bênçãos pelo esforço.

Diferentemente do disco anterior, Navy Blue, aqui, conta com diversas participações valiosas. Em “Poderoso”, o verso assimétrico de billy woods tem a potência de um spoken-word, no melhor estilo Gil-Scott Heron. Contemporâneo de Navy, Maxo reflete sobre propósito e verdade em “Certainty”, canção com refrão que remete a “You Ain’t Gotta Lie”, de Kendrick Lamar. “Cause when you certain you die by a good deed / When the certainty rise, you can’t leave”. Em “Breathe”, uma das melhores canções do disco, temos a grata surpresa da lenda yasiin bey, que mostra ainda estar em forma com o melhor esquema de rimas do projeto. E convenhamos: ser nova-iorquino e ter a participação de Mos Def no seu trampo é como ter um “Drake feature” do Rap alternativo.

Contrário às produções pasteurizadas do trap e uma outra via ao esquema de bumbo e caixa tradicional do boom bap, a preocupação dessa geração parece ser por melodias e texturas – característica que fica nítida na escolha dos samples e no tesão por loops. Das 18 faixas, Navy só produz 5, mas traz sua experiência com direção musical, que ajuda a dar unidade na sonoridade. Songs of Sage: Post Panic! conta com batidas de Chuck Strangers e Evidence, dois nomes com o manejo para traduzir em batidas essa serenidade conquistada por Blue na hora de rimar.

“I can say I love myself, finally I love it here / I can say I love you too / Promise I don’t live in fear no more” e “Tears of joy, my pain fixed” são as afirmações de Navy Blue em “224”, faixa que termina o disco. Songs of Sage: Post Panic! é o melhor trampo do artista até aqui e também é a manifestação de gratidão de Navy Blue – longe de qualquer superficialidade tilelê – por ter superado suas angústias. “Yeah, I’m glad found the light ‘cause in my darkness I was tethered/ Made my way from wrong to right, live this life for my ancestors”.

(Songs of Sage: Post Panic! em uma faixa: “Breathe”)

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ARTISTA: Navy Blue