Resenhas

Neil Young & Promise Of The Real – The Visitor

Canadense entrega novo álbum abaixo da média

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Ano: 2017
Selo: Warner
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Rock
Duração: 51:06
Nota: 2.5
Produção: Niko Bolas, Cris Walden, Neil Young

Neil Young retorna ao estúdio, com a boa banda Promise Of The Real, para mais um disco. A voz do homem segue em ordem, sua guitarra trovejante é detectável logo nos primeiros momentos do álbum, todo mundo parece concentrado em oferecer ao ouvinte o máximo de poder sônico, porém, por algum motivo obscuro, Young e seus amigos, ficam na promessa – sem trocadilhos – e naufragam perto da praia. A ideia de The Visitor é protestar contra o governo Trump, algo que, claro, é mais do que necessário. Ainda que seja um republicano histórico, Young não poupou ataques a Bush Filho, deu uma relativa trégua a Obama e agora, com Trump encastelado no poder, volta à carga com força. Se eu tivesse um jornal, oferecia a Young uma coluna semanal para que ele desse vazão ao que precisa dizer. A música, de uns tempos para cá, parece ter se tornado algo um pouco diferente para ele.

Autor de discos antológicos, especialmente nos anos 1970, com lampejos de reinvenção e criatividade nos anos 1990, Young empacou, pelo menos, nos últimos dez anos. Curiosamente, o empobrecimento musical de sua produção coincide com o lançamento de álbuns com temática ecológica-política. O velho canadense sempre foi uma alma inquieta e empreendeu várias críticas ferozes – e bem feitas – no passado, porém, de uns tempos para cá, ele parece ter perdido a fórmula para equilibrar texto e música. Em The Visitor esta capacidade é muito escassa, lembrando um pouco o péssimo disco anterior, Peace Trail, lançado no ano passado. Pelo menos aqui a produção salva algumas canções, o que não aconteceu no antecessor, que era envolto numa aura de largação sonora intencional e “menos é mais”. Aqui, no estúdio, Young conta com cordas, metais e a banda.

Mesmo mais polido, o álbum ainda tem problemas com sua sonoridade. Por exemplo, Fly By Night Deal, que tem uma pegada crua de Rock, perde um pouco de seu potencial por conta da mixagem que dispersa os vocais e os instrumentos. A boa melodia e a garra dos envolvidos compensa no resultado. Almost Always, que vem em seguida, tem mais aquele jeitão das canções Folk do velho, uma lindeza que se destaca, com um clima de música para cantar em volta da fogueira. Estes bons momentos são, lamentavelmente, exceções. Stand Tall é chata, banal, parecendo ter apenas o refrão. Change Of Heart tem um irritante andamento canto-falado que revela a voz de Neil sob um viés em que a impostação e os tons se perdem, dando um tom cansado e monótono.

O “épico” Carnival, com mais de oito minutos, tem uma levada latina próxima do constrangimento, com letra quilométrica, fazendo alegorias com personagens de parque de diversões e a vida real. Depois dela, um bom blues surge em Diggin’ A Hole, que seria melhor se fosse instrumental. Children Of Destiny mescla guitarras rasgadas com metais mariacchi e cordas, além de um canto meio caricato, meio marcial, que faz tudo soar desconexo e, acima de tudo, quase insportável. When Bad Got Good, de 2 minutos, antecede outra faixa “épica”, dessa vez, a interminável Forever, cujo título também não parece ser trocadilho. Outro híbrido rock’n’blues sem muito sentido.

Neil Young merece respeito, tem muitos fãs, tem visões de mundo interessantes, porém, está abusando há muito tempo da nossa boa vontade, que não é eterna. Abre o olho, Neil.

(The Visitor em uma música: Fly By Night Deal)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.