Resenhas

Nelly Furtado – The Ride

Promovido por excelente single, disco mostra menos interessante do que se propõe

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Ano: 2017
Selo: Nelstar Music Inc
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Pop Eletrônico
Duração: 45'
Nota: 2.5
Produção: John Congleton

“Posso entender o menosprezo das pessoas pela música Pop” é uma das frases que abrem a crítica mais famosa que Nelly Furtado recebeu, pelas mãos do escritor Nick Hornby no auge do sucesso de seu primeiro single, I’m Like a Bird, em 2001. Nele, o autor comenta sua vontade de ouvir o hit uma dúzia de vezes ao dia e sua gratidão à artista “por criar em mim a necessidade narcotizante de ouvir sua canção sem parar”. Quinze anos depois, a cantora luso-canadense repetiu o feito que Hornby cita ao lançar uma faixa com o mesmo descaso pelo gênero enlatado do mainstream que o autor, Pipe Dreams, e começar assim a divulgação de seu The Ride, disco que propunha claramente uma reinvenção da figura Nelly Furtado ao abraçar um lado menos comercial – e bastante atual – de seu som.

Ouvir o álbum é deparar-se com uma artista que faz questão de te dizer o quanto é autêntica dentro do Pop “torto” que se dispõe a fazer, como Pipe Dreams mostrou quando saiu cinco meses antes – uma canção sem qualquer urgência, alongada ao máximo dentro de seus quase quatro minutos e meio de duração, com uma levada bastante contemporânea que parece ter sido inspirada em gente como Frank Ocean e Rihanna, misturando o orgânico e o eletrônico em um R&B descompromissado, entediado e, por isso mesmo, sedutor. E se a faixa, por um lado, exibia o que melhor poderíamos esperar do disco, ela torna-se por outro um padrão de qualidade inalcançável para as outras onze faixas.

Elas se arrastam por um grau mínimo de experimentalismo que, de tão contido, insiste em um meio do caminho entre algo que seja ou intrigantemente autêntico, ou assumidamente divertido, como seu passado de faixas do naipe de Say It Right e Promiscuous rendeu. E isso não tem a ver com o nível das composições, mas com as decisões do tratamento de cada uma das faixas: Cold Hard Truth abre o álbum com um grau de tensão nos timbres e batidas quebrado no refrão animadinho para dançar, enquanto a seguinte Flatline repete a fórmula com efeitos na voz que distanciam ainda mais Nelly do aspecto de diva que tantas cantoras buscam – ambas, contudo, são mais esquecíveis do que deveriam.

Para a produção, ela convidou John Congleton (que já trabalhou com St. Vincent, Earl Sweatshirt, Sigur Rós e The War on Drugs, entre muitos outros), alguém que certamente sabe dialogar com a multiplicidade de referências e os sons mais lado-B da música de hoje, como mostra em timbres, ambientação e efeitos que se repetem ao longo da obra. O grande problema é como as escolhas de bons elementos pareceram suficientes para sustentar as músicas – e não são -, e faixas como Right Road, Palaces e Paris Sun acabaram, infelizmente, chatinhas. Além de Pipe Dreams, os melhores momentos vêm com Live e Sticks and Stones, músicas que, não coincidentemente, tratam as composições com o capricho Pop que merecem, sendo a última co-produzida por Mark Taylor (Britney Spears, Lady Gaga, Cher).

Se The Ride é o trabalho de “reciclagem” que Nelly Furtado precisava fazer para aprender a dialogar melhor com estéticas atuais e, dessa forma, se aproximar de um público mais jovem, a tentativa é, muito provavelmente, falha. E se a intenção era apresentar algo que solidificasse um lado-B do Pop no mainstream, justamente por entregar um trabalho moldado pela aparência alternativa, a cantora fica igualmente para trás – principalmente um ano depois de Rihanna ter feito isso com maestria em seu Anti -, já que nunca se mostra inteiramente de um dos dois lados do muro. Aproveite os melhores momentos do disco para incrementar suas playlists, na maior atitude contemporânea possível, e ignore o restante assumindo a descartabilidade que o Pop possui por natureza.

(The Ride em uma faixa: Live)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.