O músico carioca Nicolas Geraldi chega chegando em seu álbum de estreia intitulado Em Outro Lugar do Céu. Com influências inconfundíveis de Clube da Esquina, Geraldi reúne nomes habilidosos da MPB contemporânea para criar uma música grandiosa e evocativa, que soa como um sopro de vida no Brasil atual.
As composições de Geraldi mostram algum tipo de frescor nascituro, algo ainda verde e tenro, com letras e melodias ondulantes como as imagens que procura evocar – serpenteando pelas montanhas no caminho entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Assim como Milton se colocava dentro uma saveiro pronta para partir e velejar pelo mar afora, o sentimento de Em Outro Lugar do Céu é de errância, da fuga de um lugar original e incômodo à procura de alguma verdade que vai se revelar durante peregrinações para fora do mundo e para dentro de si.
Dividido profissionalmente entre a psicologia e a prática da meditação, Geraldi faz música como maneira complementar de alguma busca por espiritualidade, pelo self – ou seja lá qual for a fonte original que vibra dentro de nós. No meio do caminho entre a articulação de ideias e a expressão pura, Geraldi alia verbos no infinitivo a palavras suspensas, que se dissipam pelo ar – “lugar”, “terra”, “lembrança” – enquanto, aos poucos, revela adesão a um tema específico.
“Para mim, compor é uma forma de expressar o inexprimível”, ele diz no release de imprensa do álbum. “De transformar sentimento em som. Por isso digo que lançar esse álbum é uma grande exposição para mim, que não sou uma pessoa muito expositiva. Compor é uma experiência meditativa para mim e vem de um lugar muito genuíno, então foi necessário muito trabalho interno para decidir gravar e colocar isso no mundo”.
Outro grande mérito do trabalho fica por conta do produtor Guilherme Lírio, que se junta a um time formado por nomes como Alberto Continentino, Dora Morelenbaum, Marcelo Costa e Sergio Machado a fim de elaborar arranjos que se desenrolam e rodopiam preenchendo todos os espaços, insuflando esse trabalho de 40 minutos como se fosse um épico disco duplo. Em viagens instrumentais e vozes sirênicas, Em Outro Lugar do Céu é uma grata surpresa de 2024 e chega carimbando o certificado de qualidade do que a música brasileira é capaz de produzir no mundo hoje.
(Em Outro Lugar do Céu em uma faixa: “Sempre Há”)