Resenhas

Nicolas Jaar – Cenizas

Entre ruídos e silêncios, produtor instiga o desejo de exploração por procedimentos e técnicas improváveis

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Ano: 2019
Selo: Other People
# Faixas: 13
Estilos: Eletrônica, Experimental
Duração: 53’
Produção: Nicolas Jaar

Pode ser o timing perfeito ou ironia do destino, mas Cenizas, o quinto álbum do produtor chileno-estadunidense Nicolas Jaar, foi elaborado durante um período de quarentena auto imposta pelo músico. Em um texto de seu site oficial, ele declara que tentou se livrar de toda a “negatividade” ao retirar-se da sociedade: “eu parei de beber álcool, fumar, consumir cafeína, comer animais, etc., e, durante um período de tempo, também fiquei em quarentena sozinho em outro lado do mundo, a fim de poder trabalhar com música por meses a fio […] Eu não queria continuar alimentando o sistema. Sua fome, seu passado”.

Cenizas (“cinzas”, em espanhol), segue a mesma linha de pensamento da Música Eletrônica de vanguarda dos últimos anos: a inspiração para o projeto nasce da Música Experimental. Jaar explora o som e entende que ele não precisa ser feito apenas de melodias agradáveis, atentando-se a ruídos e silêncios que também constroem o mundo à nossa volta. Assim, a tentativa de Jaar parece ser elaborar a paisagem sonora de um mundo em processo de apocalipse, elencando timbres enferrujados, demolidos e espaços desolados em uma mesma faixa sonora.

No entanto, seja diante de suas sombras interiores – que ficaram em evidência com a abstinência auto imolada –, seja frente a um colapso estrutural do planeta, Nicolas Jaar elaborou um álbum pouco exploratório e muito literal. A busca espiritual, por exemplo, se traduz no clima solene, grave e em algumas melodias gregorianas. A destruição do mundo, por sua vez, acontece por meio de faixas sem estrutura, nas quais timbres “improváveis” – ruídos, distorções e semelhantes – são randomizados e colapsam uns sobre os outros.

Desde o começo de sua discografia, Jaar se preocupa com questões conceituais – vide o seu primeiro disco, Space is Only Noise (2011), que entende o som em escala macrocósmica. O produtor destacou-se justamente pelo seu caráter disruptivo, introduzindo a possibilidade de introversão e profundidade no campo da EDM. Todavia, com Cenizas, o apego com a estética experimental soa mais importante do que o experimento em si – ouça a faixa “Gocce”, que parece mimetizar uma banda instrumental. Nesse sentido, o álbum, em seus melhores momentos, instiga o desejo de exploração por procedimentos e técnicas improváveis da Música Eletrônica, mas acaba recalcando-se no discurso de autoconhecimento.

(Cenizas em uma faixa: “Rubble”)

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ARTISTA: Nicolas Jarr

Autor:

é músico e escreve sobre arte