Resenhas

Nicole Atkins – Slow Phaser

Cantora tem tudo para agradar os amantes de belas melodias, bons arranjos e boas produções

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Ano: 2014
Selo: Oh Mercy! Records
# Faixas: 11
Estilos: Alternative, Singer/Songwriter
Duração: 43:34
Nota: 3.5
Produção: Tore Johansson

“Ao longo da paisagem da janela, estava o rio sob a chuva”. Nicole Atkins dizia isso em seu primeiro disco, Neptune City, inspirado totalmente em sua cidade natal, no estado americano de New Jersey. Ali, exposta às obras de Roy Orbison, Ronettes e Johnny Cash, procurando entender as mudanças do clima e da própria alma, ela abraçou a música desde cedo, mais precisamente aos nove anos, quando começou a aprender piano. Quatro anos depois, adentrava o maravilhoso mundo da guitarra. E não parou mais.

Nicole deixou Neptune para estudar desenho na Carolina do Norte, fato que possibilitou seu contato com uma cena musical intensa que se delineava na cidade de Charlotte. Após um ano na Austrália, voltou para os Estados Unidos em 2002. Após gravar seu primeiro EP com a banda Los Parasols, Nicole fixou residência no Brooklyn, Nova York, e iniciou seu longo caminho em busca de uma carreira solo como cantora e compositora. Em 2004, retornou para a casa dos pais em Neptune e iniciou uma interessante carreira no circuito da região, quando foi notada pela gravadora Roadrunner. Nicole divulgava uma fita demo que havia gravado, chamada Party’s Over. As gravações chegaram aos ouvidos da toda poderosa Columbia/Sony, que ganhou o passe da jovem cantora. Logo, a artista contava com uma banda de apoio chamada The Sea e gravava seu primeiro disco, com a produção de Tore Johansson (responsável pelos discos de seus conterrâneos suecos The Cardigans), em seu estúdio, na cidade de Malmöe, em 2007. O resultado foi aclamado pela crítica como um exemplar do Pop Noir, ou seja, uma música acessível e melodiosa, mas cheia de nuances sonoras que remontavam a climas soturnos e românticos, bem a exemplo das inspirações primordiais de Nicole, sobretudo Roy Orbison, o trovador romântico que morrera por problemas no coração em fins dos anos 80.

Sete anos após a estreia, tendo lançado outro disco neste espaço de tempo, Mondo Amore (2011), Atkins retornou a Suécia para a produção e gravação deste Slow Phaser. A produção de Johansson prova ser ideal para a verve musical de Nicole, que amplia seu espectro sonoro para algo que poderia ser chamado de Disco Music Noir, uma vez que há sombras de uma discoteca à la David Lynch em canções como Who Killed The Moonlight, Girl You Look Amazing, dançantes, mas não tão facilmente. Já seria interessante se todas as canções de Slow Phaser enveredassem por esse caminho, mas há mais surpresas reservadas no percurso musical, como It’s Only Chemistry, cheia de ritmos elípticos com uma métrica que parece um contínuo refrão, em clima de cantoria no celeiro, devidamente conduzida por banjo e órgão. The Worst Hangover, como o nome já entrega, é uma canção sobre a dor de cabeça da manhã seguinte, que vai estar bem nublada e chuvosa. Sin Song, conduzida por violão e rasgada pela voz de Nicole e um canto em contraponto que usa o termo “son of a bitch” a cada instante. Cool People, por sua vez, é plácida e calma, pontuada por teclados e melodia bela. Em todos os momentos de Slow Phaser é possível notar a boa forma de Nicole, seja como cantora ou compositora.

Com lançamento através de seu próprio selo, Oh Mercy! Records, devidamente badalada por conterrâneos ilustres como Bruce Springsteen, o terceiro disco de Nicole Atkins tem tudo para agradar os amantes de belas melodias, bons arranjos e boa produção, tudo no lugar, como convém. Boa pedida.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.