Resenhas

Night Moves – Carl Sagan EP

EP da banda americana tem quatro inéditas e clima celestial mantido

Loading

Ano: 2017
Selo: Domino
# Faixas: 5
Estilos: Rock Alternativo, Rock Psicodélico, Folk Alternativo
Duração: 25:39
Nota: 4.0
Produção: John Agnello

Durante essa segunda semana de janeiro, Night Moves está na Europa, em sua primeira excursão por aquelas bandas. Toca em lugares como Holanda e Alemanha pra depois fazer uma mini-turnê pelo Reino Unido, levando até esses felizardos o seu amálgama de Rock velhusco com pitadas de modernidade extrema. O disco anterior – segundo da carreira do grupo – Pennied Days – conquistou o velho coração deste crítico musical que vos escreve, não por ser uma peça de museu sonora, mas por ser uma vigorosa e inteligente retomada dos aspectos mais melódicos e bonitos do Rock, exatamente como se fazia no início dos anos 1970 por bandas como Big Star e Badfinger que, se não foram bem sucedidas comercialmente, foram influentes e ainda são nomes que suscitam respeito por quem entende do riscado. Como prêmio pelo sucesso de Pennied Days, além da turnê europeia, o grupo solta um adorável Carl Sagan EP. Vamos destrinchá-lo pra você.

O grande barato de Night Moves é sua habilidade em conjugar a tristezinha melancólica de adolescente que passa a noite de sábado em casa, olhando pro teto do quarto em forma de melodia atemporal. John Agnello, cérebro por trás do grupo, é um exímio artesão musical, tem um ouvido privilegiado e, sempre que possível, enfia teclados e órgãos nos arranjos, dando uma dramaticidade vintage para suas composições, tornando-as mais sérias e doces, ao mesmo tempo. O panorama deste EP é bastante favorável para fãs: traz a faixa-título na mesmíssima versão de Pennied Days, exibindo toda a sua belezura e referência aos anos 1980, não o do technopop, mas do rescaldo do Pop radiofônico da década anterior, meio sem lugar, mas belíssimo. Além dela, nada menos que quatro inéditas, um verdadeiro presentaço.

Estas composições, gravadas nas mesmas sessões do álbum e no mesmo clima, revelam novas facetas do grupo, especialmente no lado menos Pop. É o caso de Drum Test e Wondering How, que têm duração além dos seis minutos e entrecortam momentos convencionais com solos, paradas, alterações de ritmo, flertes com eletrônica e instrumentos, mostrando que nem tudo é belezinha e fofura no arsenal dos caras. Claro, a doçura melódica segue preservada, dando total identidade à obra do grupo. As outras duas, Lovely, Lately e Maria são, sim, totalmente inseridas na onda de “as definições de belezura foram atualizadas”, trazendo guitarras e teclados maiores que a vida, vocais dissonantes naufragados em efeitos – dando mais carinho e autocomiseração – para o resultado final. É tudo docemente Big Star, no sentido de saudade do futuro musical que nunca aconteceu. Entende?

Night Moves foi uma das grandes surpresas do ano passado e dá, com este EP, um beijo no rosto dos fãs, dizendo: “vim pra ficar, aguentem as pontas que tem mais de onde vieram estas”. A gente só agradece. E canta junto.

(Carl Sagan EP em uma música: Maria*)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.