Resenhas

NxWorries – Why Lawd?

Segundo disco da dupla traz Knxwledge mais afiado nos beats do que nunca – enquanto Anderson .Paak ativa o modo reflexivo

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Ano: 2024
Selo: Stones Throw Records
# Faixas: 19
Estilos: Rap, R&B, Soul
Duração: 44'
Produção: Knxwledge

Oito anos separam o segundo disco do NxWorries de Yes Lawd! (2016), estreia da dupla formada por Anderson .Paak e o beatmaker Knxwledge. Nessa quase meia década muita coisa aconteceu na carreira de ambos, mas é inegável que .Paak se tornou uma estrela – trabalhou com Bruno Mars no (também) duo Silk Sonic (que levou quatro prêmios no Grammy), participou de uma comemorada apresentação no Super Bowl em 2022 (ao lado de nomes como Dr. Dre, Snoop Dogg, Kendrick Lamar, 50 Cent e Mary J. Blige), além de, é claro, continuar sua carreira solo com lançamentos como Oxnard (2018) e Ventura (2019).

Se, em 2016, a dupla celebrava sua parceria abordando, de forma expansiva, festas, mulheres e drogas, a nova reunião parece imergir em consequências de certos excessos. (Inclusive, vale lembrar que, pelos bastidores, .Paak passa por um divórcio com a cantora Jae Lin, com quem foi casado por 13 anos). Distante do tom brincalhão e festivo de outrora, Why Lawd? é uma reflexão mais introspectiva sobre desilusões amorosas, infidelidade e as experiências recentes do músico. Faixas dolorosas “MoveOn” e “Battlefield” servem como espinha dorsal do registro – a primeira explora a dificuldade de seguir em frente após o fim do relacionamento; a segunda, evidencia uma sensação de solidão que o músico enfrenta desde sua infância.

.Paak mantém sua maestria ao empunhar o microfone em frentes diferentes, seja como rapper (“86Sentra”, “KeepHer”), crooner (“FromHere”) ou frontman de soul (“FallThru”, “Daydreaming”). Ele mostra também que, apesar de preso na fossa de uma separação, ainda consegue se divertir, seja se gabando dos feitos dos últimos anos (“I just did the Super Bowl halftime show with the GOATs / Why the f*ck would I wanna do a Verzuz?”, de “86Sentra”) ou saindo com outras mulheres (“I went and got a young bitch, twenty-one, dumb thick (Damn)”, de “HereIAm”) – tudo para chegar à conclusão de que “But she dumb as a brick with shitty music taste (No one) / I know it’s looking like I might be really doing things (No, Lord) / But I ain’t doin’ shit, but lookin’ on your page (My God)”, ainda em “HereIAm”.

Mas não é só sobre as fundações de .Paak que o disco se constrói. Knxwledge está mais afiado do que nunca em sua produção, com sua habilidade ímpar ao misturar elementos clássicos e contemporâneos nos beats. Moderno e nostálgico, o disco se desenvolve em beats criados ao redor de soul, jazz e R&B – aos moldes de J Dilla ou Madlib. Mais do que um exercício nerd de um produtor no ápice de suas possibilidades, Knxwledge consegue ser o veículo pelo qual Anderson conta suas doídas histórias. O clima – pesaroso ou meditativo ou reflexivo – se constrói pelas costuras de batidas e melodias do beatmkar.

O resultado é uma obra colaborativa em que tudo se encaixa. Mesmo com 19 músicas, o disco não soma mais do que 45 minutos, em canções que muitas vezes não passam da marca de dois minutos, com exceção de “KeepHer” e “FromHere”, mas por um bom motivo: Thundercat e Snoop Dogg, respectivamente. É o tempo necessário para passar a mensagem e nada mais do que isso. Menos efusivo do que seu antecessor, o álbum mostra o duo bastante maduro – seja pelas reflexões pós-divórcio de Anderson .Paak, ou pelas produções cada vez mais afiadas de Knxwledge. Se em Yes Lawd! existia a exclamação de uma vida cheia de prazeres, em Why Lawd? há o questionamento dos caminhos do hedonismo.

(Why Lawd? em uma faixa: “KeepHer”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts