A metamorfose, uma mudança na forma e na estrutura que ocorre no corpo de muitos animais, é um conceito da biologia, mas é também um símbolo fértil do nosso imaginário. Uma metáfora para uma condição eminentemente humana: mudar completamente quem se é, e mesmo assim continuar sendo o mesmo de outrora.
A ideia de metamorfose – transformação e permanência concomitantes – parece servir muito bem à banda Okkervil River em seu oitavo álbum intitulado Away. Okkervil River R.I.P., o single lançado como prenúncio do novo trabalho, seja no seu título, seja no seu clipe que enterra seu compositor Will Sheff ainda vivo, seja na homenagem ao avô deste último presente da letra, anuncia essa morte simbólica de várias formas. Mais do que isso, a própria banda passa por esse processo de transformação, enquanto reconfigura a formação de seus integrantes e parece, de fato, renascer para uma nova sonoridade.
Muito da essência da antiga Okkervil River permanece, um Folk outonal bastante puxado pelas tendências do Country e do Rock Americana, enquanto a ingenuidade Pop e Indie de outrora parece se dissipar. A maneira narrativa de narrar fatos cotidianos de Sheff aproxima o grupo de Sun Kil Moon, enquanto sua afinidade com melodias cativantes fazem lembrar de Sean Lennon. Somada a esses fatores, também podemos detectar a amargura de Father John Misty.
Away não está isento de ressalvas. Paisagens sonoras – pássaros, sinos de igreja e ondas do mar -, e suas letras prosaicas que exibem uma maneira ilustrativa de contar histórias são apenas alguns dos lugares-comum que podemos encontrar no trabalho. Apesar disso, Away desponta como um “renascimento” promissor, e é, sem dúvida, um ponto alto na carreira de Okkervil River até agora.
(Away em uma música: Okkervil River R.I.P.)
