Resenhas

Oklou – choke enough

Disco de estreia da artista francesa une nostalgia e boas doses de surpresas em uma afiada arqueologia sonora

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Ano: 2025
Selo: True Panther Sounds
# Faixas: 13
Estilos: Synthpop, Ambient, Lo-Fi
Duração: 35'
Produção: Oklou, Casey MQ, Danny L Harle e A. G. Cook

É difícil localizar Oklou. Desde que lançou sua mixtape Galore (2020) durante a pandemia, sua sonoridade parece ser construída para provocar uma sensação de voo livre. Focada na exploração desimpedida de gêneros, a produtora e compositora francesa construiu uma identidade que privilegia sintetizadores etéreos, reverberados – mas que, ao mesmo tempo, conservam certo grau de baixa fidelidade. Entre a nostalgia e a destruição. Em sua ainda breve carreira, Oklou se consolidou a partir de diferentes singles e participações especiais em faixas de outros artistas. No entanto, apesar de existir nesse misto de mundo digital/vintage, há um inegável no pop contemporâneo. Com o lançamento de seu primeiro disco completo, temos a oportunidade de mergulhar mais fundo nesse universo tão particular.

choke enough cristaliza todas as peculiaridades sonoras que conhecíamos de Oklou. Há um forte apego por timbres de sintetizadores mais criativos – com grande ênfase em mixagens confortáveis ao ouvido (quase ASMR). Além disso, a influência dos anos 1990/2000 é marcante – seja na capa do disco, com cores frias e uma estética-tristinha-Fiona-Apple, ou pela forte presença de subgêneros da música eletrônica do novo milênio. Não se trata de trazer a nostalgia pela nostalgia e, sim, de abordar esse sentimento de forma mais sinestésica. São sons instigantes e novos, mas que, de alguma forma, soam como se estivessem distantes, lá longe, na nossa memória. Oklou segue um fluxo de narrativa que, como o nome sugere, tem a ver com essa asfixia do contemporâneo. Um sentimento tão específico que brilha sobre as construções e canções da artista. Para esta missão, ela conta com o time criativo de nomes relevantes do pop como Danny L Harle (Caroline Polachek) e A. G. Cook (Charli XCX).

A mix sufocante (mas confortável) já aquece nossos ouvidos nos primeiros acordes de “endless”, uma balada digital emocionante. “family and friends”, por sua vez, introduz o ritmo de forma progressiva, deslizando entre referências ao R&B do começo dos anos 2000; enquanto, em “ict”, Oklou se abre a influências de jazz e new age, com um solo de trompete digno de fim de tarde. Misturando UK garage e melodias pegajosas da pc music, “take me by the hand” traz a participação de Bladee. A influência do eurodance é representada com “harvest sky”, porém revestida sob essa estética “de asfixia”, sem agudos. Por fim, “blade bird” encarna o pop adolescente dos anos 1990, com batidas de trip hop e acordes de violão açucarados – daqueles de comédia romântica.

Ao longo de 13 faixas, choke enough faz brilhar o talento de Oklou como uma arqueóloga de sonoridades. A partir de uma pesquisa intensa de timbres, sua estreia chama a atenção a partir da mistura entre nostalgia e boas doses de surpresa. O familiar e o inesperado. É a consolidação de uma das revelações mais experimentais do pop.

(choke enough em uma faixa: “ict”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique