Resenhas

Omar Rodríguez -López – Arañas en La Sombra

Músico segue sua série de lançamentos frequentes com mais um disco

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Ano: 2016
Selo: Ipecac
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Experimental
Duração: 38:03
Nota: 3.5
Produção: Omar Rodríguez-López

Como vocês já notaram, estamos numa missão peculiar e interessante de resenhar periodicamente a obra de Omar Rodríguez-López. A gravadora Ipecac, estabeleceu um plano ambicioso de lançar álbuns do guitarrista porto-riquenho com intervalos de 15 dias entre um trabalho e outro, dando uma geral nos porões do músico, colocando sua obra – que já é extensa – à disposição de fãs, admiradores de At The Drive-In e The Mars Volta (bandas pregressas do sujeito) e curiosos em geral. Se há uma vantagem na obra de Omar é que, por mais experimental que ela seja, não há muita dificuldade proposta ao ouvinte, uma vez que não há abandono completo de estruturas mais ou menos Pop. Só que, até agora, dentro deste pacotão, não havia saído um disco com pinta de colcha de retalhos/sobras de estúdio, que é, exatamente, o caso deste Arañas En La Sombra.

Há rabiscos, rascunhos, canções terminadas, tudo mais ou menos com cara de inacabado. Os registros cobrem o intervalo de tempo entre 2001 e 2012, tempo em que At The Drive In e The Mars Volta existiram ou não, sendo que várias destas gravações são de ideias iniciais que originaram músicas para álbuns de ambas as formações, inclusive com participação de integrantes delas nas sessões, no caso, Ikey Owens, Eva Gardner e Jon Theodore, além de aparição especial do chapa John Frusciante em duas faixas. Isso confere um clima improvisado que faz bem ao álbum, nos dando a sensação de que estamos revirando um baú de novidades velhuscas e simpáticas.

Engana-se, porém, quem pensa que a produção se descuidou do elemento primordial, no caso, a capacidade das canções tornarem-se atraentes ao ouvinte. Há uma das mais belas criações da carreira de Omar presente por aqui, a saber, a dobradinha Un Mar Amargo/Metamorfosis, que surgem emendadas como se fossem uma mescla Pop/Progressivo, sendo que a segunda é, basicamente, um solo de guitarra, harmonioso, fluido, belo e de contornos inesperados. Outro ótimo momento é a cinematográfica Extravagants Dientes, que tem um clima estranho de caminhada solitária pelo deserto enquanto vamos experimentando timbres e sonoridades malucas na guitarra. Experimental e dinâmica, ela chegou a fazer parte de alguns shows de The Mars Volta.

As duas participações de Frusciante são interessantes: temos a barulhenta Primitivo y Bárbaro, cheia de baterias nervosas, andamento oscilante e guitarras conversando sob diversos timbres de pedal wah-wah, abusando da barulheira. Logo em seguida vem Semillas De Hez, que brinca com percussão, efeitos, teclados e toda aquela abordagem impressionista/experimental que já estamos acostumados quando o assunto é o bom e atuante ORL.

A marcha de lançamentos dos álbuns do sujeito segue inexorável. Daqui a alguns dias, se tudo der certo, entregaremos mais uma resenha de algum inventário musical dos porões digitais de Omar Rodríguez-López. O que já dá pra perceber – e que já havíamos notado há muito, desde o tempo em que suas bandas estavam atuantes – é que o guitarrista porto-riquenho tem a manha e sabe brincar com os dois extremos – Pop e experimentação – como poucos, fazendo da tensão entre ambos o seu terreno de atuação. Este é mais um bom lançamento desta série.

(Arañas En La Sombra em uma música: Un Mar Amargo)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.