Resenhas

Omar Rodriguez-Lopez – Sworn Virgins

Mais um vigoroso trabalho do virtuoso músico portorriquenho

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Ano: 2016
Selo: Ipecac
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônica, Experimental, Rock Alternativo
Duração: 35:44
Nota: 3.5
Produção: Omar Rodriguez Lopez

Nada poderia fazer mais sentido que um doidão hipercriativo como Omar Rodriguez-Lopez fizesse parte do elenco da gravadora Ipecac. Pra quem não sabe ou lembra, é o selo fundado por Mike Patton para lançar seus múltiplos projetos e esquisitices alheias. Por baixo da excentricidade comum a ambos, está uma capacidade incomum de produzir. Patton já desacelerou nos últimos anos, mas Omar está mais pilhado do que nunca. Em uma carreira solo que dura 12 anos, o sujeito já tem lançados 22 discos, sendo que, ao adentrar o elenco da Ipecac, ficaram engatilhados nada menos que 12 álbuns, gravados entre 2008 e 2013, a serem disponibilizados digitalmente a cada quinze dias, até dezembro. Além disso, os discos receberam tiragens limitadas em CD e, ao fim do ano, todos os novos trabalhos serão encaixotados e lançados numa versão física ainda mais limitada. Sworn Virgins é o primeiro desta nova série.

Não tem como não tirar o chapéu para o povo da gravadora por topar esta empreitada essencialmente anti-comercial e suicida sob o ponto de vista lucrativo de hoje. Omar é talentoso e prolixo, mas seu trabalho jamais foi fácil, pelo contrário. Talvez seus momentos mais acessíveis tenham sido em sua primeira banda, At The Drive In, que retomou atividades recenetemente. Quanto esteve em The Mars Volta, a presença do sujeito foi essencial para dar sustância aos vôos entre o Alternativo, a Psicodelia e o Progressivo mais artístico e cerebral. Nos subterrâneos, uma visão de música negra à la Red Hot Chili Peppers. Esse tanto de influências, o vai e vem entre bandas, trabalhos solos, shows e tudo mais, conferem ao trabalho de Omar uma adaptabilidade grande. Ainda não é daqueles artistas cuja sonoridade é reconhecível de imediato, até porque a multitude de discos e canções dificulta, mas é um cara que não tem qualquer problema em expressar sua criatividade. Num tempo como o nosso, repito, apostar nisso é um ato de bravura.

Sworn Virgins é um disco … experimental, claro. Tem apenas Omar e o baterista Deantoni Parks, que já tocou por pouco tempo em uma excursão de The Mars Volta e colaborou com ele no projeto Bosnian Rainbows. Chama a atenção do clima psicodélico de garagem que toma conta logo na primeira faixa, Pineapple Face, que é emendada na composição seguinte, Not Even Toad Loves You, numa única música, beirando os sete minutos de duração. É bem feita, os vocais surgem saturados de efeitos e esquisitices, mas há uma preocupação mínima com a melodia e a coerência, algo que ajuda na hora de não ferir ouvidos não-educados. To Kill A Chi Chi tem uma interessante cara de música dos anos 1980, beirando a encruzilhada Pós-Punk/Tecnopop, algo como se fosse uma demo de The Cure com outra pessoa nos vocais. Funciona, tem até certo potencial dançante. Trick Harpoon Stare Of Baby é doideira pura, mas um bom diálogo de baixo/guitarra porém, quase sai da pista numa levada estranha e pipocante de bateria.

O lado menos acessível de Omar ressurge forte em High Water Hell e oferece a canção seguinte, uma aquática e estranha criação chamada Saturine, cheia de sussurros e vozes sibilantes que aparecem sobre um fundo com guitarra quase funky, mas tudo muda lá pelos 50 segundos, parecendo uma invasão dos robôs de Guerra dos Mundos. Crow’s Feet tem um sample bem discreto de How Do You Sleep, uma canção de John Lennon safra 1971, na qual ele atacava pesadamente Paul McCartney. Funciona bem no contexto, abrindo caminho para uma aproximação formatos quase livres em Heart Mistakes e o Rock alternativo noventista em Logged Into Bliss, preparando o ouvinte para o fim do álbum. Fortuna, uma quase-vinheta de pouco menos de um minuto e meio, leva o experimentalismo com vocais para um andamento mais coerente, que mostra uma boa e cadenciada levada de bateria, o mesmo que acontece na última canção, Twice A Plague.

Os fãs de Omar Rodriguez Lopez não têm do que se queixar. A obra do sujeito será tratada com carinho e distinção pela nova gravadora e todos devem marcar em suas agendas as datas dos próximos lançamentos. A cada quinze dias, até dezembro, novidades. Quem não gostaria de ter isso de seu artista favorito? Belezura.

(Sworn Virgins em uma faixa: To Kill A Chi Chi)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.