Resenhas

Ombu – Mulher EP

Segundo EP do trio paulistano é uma apaixonada e apaixonante obra de amor

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Ano: 2015
Selo: Ablan Namur
# Faixas: 6
Estilos: Post-Hardcore, Post-Rock, Rock Alternativo
Duração: 27:00
Nota: 3.5
Produção: Tratore

Frequentemente, tenho com amigos conversas sobre técnica e originalidade na música, quase como aquela velha discussão de forma e conteúdo de outras áreas. Comparados, esses conceitos são quase sinônimos: no caso da música, técnica é como seguir uma fórmula, preencher pré-requisitos de forma, seja o jeito de tocar a guitarra, a ambientação que os efeitos vão causar ou mesmo o estilo de composição; originalidade, por sua vez, vem do conteúdo trazer algo além da forma, algo que vá além do que já está preestabelecido. O mais interessante, pelo menos para mim, é pensar que os dois são conceitos complementares para gerar algo significativo no campo artístico.

Digo, qualquer um com um mínimo de treinamento é capaz de reproduzir algum gênero musical, mimetizar algo de um artista de que goste. Poucos, porém, conseguem de fato criar algo novo a partir desses gostos. Essa pequena divagação (que poderia esticar-se ainda mais longe) é para dizer que Mulher, novo EP do trio paulistano Ombu, está nesse seleto grupo de obras originais, no sentido de aliar forma e conteúdo de uma nova maneira de apresentá-los. Veja bem, não estou dizendo que a banda reinventa a roda, mas que consegue fazer muito mais do que simplesmente imitar suas bandas ou gênero favoritos. Há alma nesse trabalho, algo que ultrapassa a simples mimese estilística.

E por falar em alma, há aqui a alma de homem que corteja sua dama com elegância e simplicidade. Com um título como Mulher e letras como “E seu eu tiver que enlouquecer, saiba, não é nada demais […] E se você acreditar, saiba, não há distâncias demais” (Saiba) evidenciam o quão disposto o trio está em galantear sua senhora. As seis faixas mostram letras dispersas, mas de uma sinceridade simplória. São canções que carregam uma poesia sutil e bastante apaixonada – algo entre a lucidez e a loucura de se estar neste estado de espírito. Esse espectro é representado também por letras como “Minha presença se reduz até não valer nada/ nunca pedi o que aconteceu/ acho que rezei por alguma coisa falsa que me fez assim/ quem sou eu ou você?/ talvez o fim do mundo me aconteceu” (Fim do Mundo) ou ainda “Eu fico esperando no sinal/nem você pra me ver/sigo solto, no final/no final, eu sigo solto” (Carroça).

Essa sinceridade poética se mistura aos arranjos de forma bastante orgânica, entrelaçando-se com os acordes esparsos e voz de João Viegas, como dois amantes em uma noite de amor. A parte instrumental é em grande guia para as letras, que ora flertam com essa mulher, ora esbravejam, ora tentam chamar sua atenção de outra forma. Reflexo disso é uma instrumentação crua, porém potente e diversa. Apenas três elementos criam sonoridades interessantes, que brincam os terrenos do Rock Alternativo dos anos 90, do Post-Rock também dessa década e uma banda em especial abre parâmetros para comparação: Slint.

As construções melódicas com seus altos e baixos, além das timbragens rasgadas e sujas alimentam os fãs do Rock com boas faixas. Músicas que queimam lentamente em uma melancolia apaixonada e apaixonante, capaz de te fazer sentir na pele parte desse amor que mira a hipotética Mulher do título – ouça Fim do Mundo e vai entender o que quero dizer.

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BOM PARA QUEM OUVE: Terno Rei, Slint, Câmera
ARTISTA: Ombu

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts