Resenhas

Oneohtrix Point Never – Age Of

Daniel Lopatin apresenta sua versão musical de um mundo com estruturas em crise

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Ano: 2018
Selo: Warp
# Faixas: 13
Estilos: Eletrônico Experimental
Duração: 42
Nota: 4.5
Produção: Daniel Lopatin

Diante de um mundo com estruturas em crise, Oneohtrix Point Never apresenta Age Of, um álbum que traduz, através de uma assinatura Eletrônica muito distinta, a tensão da vida contemporânea.

Daniel Lopatin, o músico estadunidense por trás do projeto, já é um nome de destaque na cena há algum tempo, trabalhando num território que se encontra entre a música Experimental e a Ambiente. Ou seja, o que ele oferece são paisagens sonoras, mas não necessariamente as paragens contemplativas tão usuais do termo, preferindo, muito pelo contrário, cenários desolados, febris e apocalípticos.

Age Of acontece em uma intersecção de histórias: a pessoal do músico e a da música Eletrônica na ribalta dos últimos anos. Durante toda sua carreira, mas principalmente desde a mudança para o selo Warp com o álbum R Plus Seven, Lopatin tem elaborado uma espécie de música escultórica, que evoca instalações artísticas, arquitetura pós-moderna e estruturas de aço distorcidas. No entanto, este será o paradigma dos novos tempos: não são raros, entre os protagonistas da música Eletrônica Experimental, artistas que evocam timbres metálicos e cenários de destruição. Seja com a demolição sonora de Tim Hecker, os drones sobrevoantes de Anohni ou a violência sadomasoquista de Arca, encontramos exemplos que parecem afirmar que a resposta da Música Eletrônica para a contemporaneidade terá a ver com a cataclisma de forças que regem a sociedade.

A capa e o nome de Age Of parecem parodiar o desejo de salvação messiânica dos anos 60. Ou seja, a visão de um mundo espiritual que teria chegado com a Era de Aquário. Se o álbum faz alusão à esse estado de espírito, no entanto, é apenas para tirar um sarro de uma suposta hipnose eletrônica que sofremos atualmente – o notebook na capa do trabalho vem para reforçar esse ponto. Essa visão secular, irônica e masculina, também será o mote de muitos outros músicos descontentes com a condição humana que nos encontramos.

Sobressai desse enquadramento o bom gosto de Lopatin, especialmente em relação aos timbres escolhidos na obra. O harpsichord metálico possui uma cadência pontiaguda, as vozes hiper processadas trazem algo de sobrenatural à produção e a dinâmica de ritmos evoca uma espécie de desobediência, como se Age Of não respondesse a nenhuma autoridade – o gosto do ouvinte, os costumes da música Eletrônica, a lógica interna do álbum -, contradizendo sempre o que acabou de afirmar.

O senso estético de Lopatin convoca o poder edificante de uma destruição. Há em Age Of uma noção mística de que é preciso morrer para renascer. Daí o senso de fim dos tempos presente por aqui: este trabalho parece invocar não o fim de uma era, mas o fim da própria noção de era; ou seja, destrói a esperança – no sentido de espera -, de um mundo melhor na tentativa de abrir os olhos do público para uma mudança que já está acontecendo. Ao menos na música, Oneohtrix Point Never age no limite dessa possibilidade.

(Age Of em uma música: Toys 2)

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BOM PARA QUEM OUVE: ANOHNI, Arca, Tim Hecker

Autor:

é músico e escreve sobre arte