Resenhas

Orcas – Yearling

Disco do duo é altamente recomendado para entusiastas do gênero Dream Pop

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Ano: 2014
Selo: Morr Music
# Faixas: 8
Estilos: Eletrônica, Dream Pop, Haze Pop
Duração: 44:39
Nota: 4.0
Produção: Benoît Pioulard e Rafael Anton Irisarri

Se você está procurando um disco bonito e que faça sua mente gerar paisagens plácidas, convidativas e próximas do ideal, chegou este segundo álbum do duo americano Orcas para cumprir esta função. Como está no site da gravadora alemã Morr Music, “a obra de Orcas une musicalidade e abstração” e essa pequena definição está bem próxima da realidade. Formado pelo multiinstrumentista e cantor Benoît Pioulard e pelo compositor minimalista Rafael Anton Irisarri, Orcas surgiu em 2012 e mantém como diretriz principal a composição de climas, nuances, pequenos e marcantes caleidoscópios musicais que se dobram e expandem sobre si mesmos, mas, não se confunda: a música da dupla não é “viajante” no sentido banalizado do termo, mas talvez funcione como uma sutil e bela obra para se dançar com o cérebro, com harmonia e graça. Não é novo, claro, mas é muito bonito.

O álbum traz apenas oito canções, nenhuma delas com vontade de acabar e bem próximas das fronteiras formais entre sonoridades oitentistas de bandas como Talk Talk e mesmo algo do Slowcore de Galaxie 500. São pequenas tempestades sobre a cidade em forma de canção. Seria fácil para Orcas fundir as melodias numa só música ou mesmo emendar as composições com o objetivo de criar um efeito de continuidade, mas o realce das canções e mesmo o uso do silêncio em meio às composições, realça ainda mais o caminho musical proposto em Yearling.

A partida é dada com Petrichor, um instrumental que se inicia com ruídos de chuva e vento (ou seria um avião a jato se afastando no céu?) e deságua numa melodia intencionalmente monótona, mas que reproduz as impressões que podemos ter ao sentarmos num banco da praça para ver crianças brincando ou pessoas indo e vindo. A onda já é totalmente diferente com Infinte Stillness, com bateria marcada (cortesia de Michael Lerner) e vocais sonhadores, que viajam pelo ar em meio a pequenos fios condutores de teclados elementais. Guitarras se insinuam pela paisagem, cortesia de outro convidado, Martyn Heyne, compondo uma visão oitentista, como se fosse algum single perdido de Felt ou um lado-B de Talk Talk, fase Spirit Of Eden.

O caminho segue adiante com a melancolia urbana de Half Light, com andamento de balada Pop dos anos 80, teclados lineares e vocais doces de Pioulard, emulando novamente alguma coisa da parada independente britânica daquela época. Selah, a canção seguinte, totalmente instrumental e atmosférica, segue numa direção bem próxima do que Vinny Reilly/Durutti Column faria hoje em dia. Capillaries adentra um território totalmente cinematográfico, visual, com uma paisagem noturna e urbana, com pontuações elegantes de piano e teclado, que faz o clima ideal para um vôo sobre a cidade iluminada. Guitarras surgem aqui e ali, dando o efeito necessário.

An Absolute alia violões acústicos e efeitos, que desaguam numa levada clássica de bateria sobre vocais sussurrados, que, de alguma forma estranha, lembram Moody Blues. Fillament é mais uma visita ao estupendo disco de 1988, Spirit Of Eden, dos ingleses de Talk Talk, com ambiência erguida com eletrônica que parece acústica, analógica, marcial e muito bonita. Mais climas e insinuações ambient surgem na última canção, Tell, com efeitos e variações de sonoridades da natureza ou das impressões que ela nos desperta em termos musicais, algo complexo de explicar e entender, mas que Orcas parece compreender totalmente.

A beleza de Yearling é discreta e impressionante, exatamente como a música feita pela dupla. Ouça sem susto e prepare-se para sair do mundo por pouco mais de quarenta minutos. Quem não merece isso?

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BOM PARA QUEM OUVE: Durutti Column, Talk Talk, Beach House
ARTISTA: Orcas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.