Resenhas

Otto – The Moon 1111

Apesar de algumas ótimas faixas e excelente produção, disco parece muito mais preocupado em ser contemporâneo do que ser de fato bom

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Ano: 2012
Selo: Natura Musical
# Faixas: 10
Estilos: MPB, Indie, Indie Pop
Duração: 41:40
Nota: 2.0
Produção: Pupillo

Otto é alguém que sempre esteve em sintonia com aquilo que acontece de mais contemporâneo na música brasileira, seja ao longo dos seus quase quinze anos de carreira solo ou com suas bandas anteriores, a Nação Zumbi e a Mundo Livre S/A – dois nomes que estão encravados no que o Brasil fez de melhor na década de 90.

Quando Ela Falava, a primeira faixa de The Moon 1111 divulgada na Web, foi lançada, logo fiquei ansioso para conferir o trabalho em sua totalidade. Ela tem uma levada Pop deliciosa, com aquele arranjo de guitarra com sintetizador e o tom de chamada do telefone como base. Tudo em seu devido lugar para acompanhar uma letra cheia de saudades e figuras de linguagem simples. Deliciosa.

Daí saiu a música que dá nome ao álbum, toda cheia de uma tropicalidade sempre bem-vinda e timbres que contrastam entre o abafado e o nítido, levemente dançante. Depois, veio Selvagens olhos, nego!, uma homenagem ao rapper Sabotage em um dueto com Luê Soares. Bonita, daquelas cuja dimensão parece se estender para além da música e te faz fechar os olhos naturalmente para apreciar o conjunto. Tudo muito interessante até então.

Quando me encontrei com o disco em mãos e comecei minha audição, alguma coisa parecia errada. Achei que o problema era de Dia Claro, uma típica faixa introdutória com sons que parecem de outrora e uma melodia que se esforça para ser simpática em meio ao vocal rasgado de Otto, mas o incômodo continuou com faixas como A Noite Mais Linda do Mundo, que segue esse mesmo espírito forçadamente livre para cantar “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”, para logo em seguida dizer “a gente pode ser feliz” em uma estrofe que conclui com “não me pergunte, pois não sei”. É, ficou tudo meio perdido mesmo.

As brincadeirinhas com as palavras em músicas como Exu Parade e HDeus acabam deixando a experiência, que já não ia bem, mais cansativa ao reproduzir o joguinho de letras tão comum na MPB. Mesmo as referências à cultura popular em um misto de elementos contemporâneos (caso do “HD”) também não impressionam e tornam muito convidativa a ideia de pular logo para a próxima faixa.

Não que o som não esteja bacana. A produção de Pupillo acertou em pequenos detalhes – ela é minuciosa e sabe como preencher todo o espaço sonoro com timbres variados e ruídos na medida certa. Porém, é uma pena que as composições não sejam mais atraentes. Falta algum carisma, algum teor amigável, mesmo em Miss Apple e Zé Pilantra, que tem uma alma simpática em um invólucro pouco envolvente.

Quando você se questiona se dará mais uma chance a The Moon 1111, chega a última faixa e, com ela, o respeito extrapola os limites: DP é sobre “dupla penetração” e soa tão natural quanto um adolescente querendo se gabar de sua ousada vida sexual. Aquela sensação de uma intimidade forçada volta a aparecer, uma vontade juvenil de querer chocar. Aqui, fica apenas a minha dúvida se faz sentido tentar escandalizar em 2012 falando de sexo.

Ao terminar o disco, a sensação é a de uma obra que foi bem feita por pessoas talentosas que entendem do assunto, mas ela parece fora de contexto e um pouco segura demais justamente ao apenas inserir-se no cenário e tempo em que se encontra, como se isso fosse mais importante do que investir em músicas que seriam boas de fato em qualquer época ou lugar.

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BOM PARA QUEM OUVE: Wado, Holger, Caetano Veloso
ARTISTA: Otto
MARCADORES: Indie, Indie Pop, MPB

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.