Resenhas

Paes – Wallace

Disco sucinto e divertido se aproveita do Bedroom Pop para trabalhar conceito melancólico de fácil compreensão

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Ano: 2019
Selo: Abismmo
# Faixas: 7
Estilos: Indie, Bedroom Pop
Duração: 24'
Produção: Benke Ferraz

“Eu vou expandir os espaços/ Desacelerar o compasso/ Desse coração dilacerado/ Andar mais devagar” – os versos de “Fala” traduzem bem o clima que o pernambucano Paes apresenta em Wallace. O mood lisérgico da obra está intrínseco a essas palavras, daí a faixa ter sido uma escolha certeira do músico para apresentar o disco antes de seu lançamento.

Curtinho, Wallace comprime algumas das características que Paes vem trabalhando em seu som de maneira direta e compacta. Sonoramente, é um apanhado de canções calcadas naquele Indie feito no computador, de alma Lo-fi e inspiração nostálgica. Não à toa, há quem chame o estilo de Bedroom Pop (já que, mais do que “caseiro”, é um som feito mesmo no laptop no quarto), e é menos à toa ainda que essa sonoridade esteja intimamente ligada ao conceito do disco. Isso porque, como “4Paredes” explicita, a obra é sobre uma geração que se fecha em casa – ou no quarto – e se conecta ao mundo inteiro, ao passo em que se sente integralmente sozinha. “O que é de fato essência/ Não tá na ciência/ E sim, mora no abraço”, ele canta na faixa, que encontra sua tradução também na capa do disco, na qual vemos o personagem central sozinho com o celular na mão.

Chamado de Wallace, esse eu-lírico que canta todas as músicas do disco surge como um alter ego de Paes. É um homem que observa a contemporaneidade atropelar tanto sua agenda, quanto seu emocional através da promessa de uma vida melhor com o tal conforto da tecnologia (“Onde está o que há de trazer/ Liberdade entre nós/ Onde está o que há de fazer/ Escutar tua voz”, como ele canta em “Lembra”).

Esse grau de melancolia poderia gerar um LP desesperançoso, mas não é o caso. Assim como uma página de memes que brinca com a tristeza, as faixas de Wallace expõem os problemas, mas te fazem curtir o som com certa leveza. É provável que isso aconteça porque Paes trabalhou só com alguns (poucos) amigos no disco, como Benke Ferraz (Boogarins), que assina a produção.

Sendo assim, Paes fez um lançamento que sabe ser sensível na compreensão de um público que se percebe descontente com o tal do mundo online inteirinho ao alcance dos dedos. Em uma época em que muito do que vemos é falso e plastificado, o artista oferece quase que um “avatar” não para o ouvinte se sentir amigo de seu alter ego, mas para ele se lembrar que a vontade de ver melhor, aquela cantada em “Fala”, só vai acontecer de verdade da porta para fora.

(Wallace em uma música: “Fala”)

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ARTISTA: Paes
MARCADORES: Bedroom Pop, Indie

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.