Resenhas

Panda Bear – Sinister Grift

Embora mantenha timbres e efeitos característicos, Noah Lennox abraça mais a ideia de “canção” em novo álbum do projeto

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Ano: 2025
Selo: Domino
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Psicodélico
Duração: 44'
Produção: Josh Dibb, Noah Lennox

O estadunidense, agora “convertido” lisboeta, Noah Lennox encontra nas parcerias motivo para fazer música – e no fim delas motivos para fazer álbuns. Seja por conta de seu projeto Panda Bear, seja com os parceiros da Animal Collective, ou de seus diversos outros projetos paralelos – recentemente, ao lado de Sonic Boom, lançou o álbum Reset, mas, ao longo de sua trajetória já colaborou com Daft Punk, Solange, Paramore e Jamie xx – o músico já cravou seu nome da história da música alternativa.

Principalmente se considerarmos o álbum Person Pitch, de 2007, fundamental em sua discografia. Ali está a fundação de sua personalidade musical, que extravasa para todas as suas outras empreitadas: camadas sobrepostas de voz, muito reverb e uma sensação generalizada de falta de limites definidos. A colagem de elementos musicais que resulta em espirais sonoras de música, barulho e ambiência.

Por isso, é curioso ver o músico neste novíssimo Sinister Grift, o décimo de sua carreira solo, “de volta” ao universo da canção. Contrariando expectativas, em uma carreira que via a música cada vez mais dissolvida em experimentações, o lançamento conta com a presença de músicas mais estruturadas em gêneros, menos lavadas, ainda que timbres e efeitos se mantenham dentro de um universo familiar ao músico.

A primeira parte do álbum apresenta uma surpreendente exploração do doo wop no estilo das bandas adolescentes dos anos 1950, além de inflexões do dub e do reggae. Lá pela metade, no entanto, o BPM diminui e um ar melancólico e introspectivo toma conta do trabalho.

Em sua amálgama sonora, Sinister Grift deixa notar a colaboração de diversos outros músicos, cada um trazendo elementos idiossincráticos a cada faixa. Cindy Lee, Rivka Ravede e Daniel Lopatin dão as caras, além de seus amigos de Animal Collective – Josh Dibb produziu, Brian Weitz contribuiu com uma biblioteca sonora na faixa “Elegy for Noah Lou”, e Avey Tare faz o solo em “Ends Meet”. Também em “Anywhere But Here”, a filha de Lennox, Nadja Lennox, recita alguns versos bonitos em português com acento lusitano.

Sinister Grift possui uma entonação melancólica e dá pistas ao falar de uma possível separação. De acordo com Lennox, é um daqueles álbuns cujo significado aparece apenas depois de pronto. Segundo ele, o título diz respeito a “uma mentira que contamos a nós mesmos, que se pudermos planejar as coisas da maneira certa, ou se formos inteligentes o suficiente, ou se formos cuidadosos o suficiente, podemos evitar dor, arrependimentos, machucar outras pessoas”. Embora seja enfático ao afirmar que o álbum não é autobiográfico, concede que nessas músicas, “há pedaços de mim, ou coisas que pensei, ou coisas que experimentei. Há um sofrimento nele que é meu, mas não está contando a história da minha vida”.

(Sinister Grift em uma faixa: “Elegy for Noah Lou”)

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ARTISTA: Panda Bear

Autor:

é músico e escreve sobre arte