Resenhas

Paris Texas – BOY ANONYMOUS

Dupla californiana faz promissora estreia com enigmática mixtape de Bedroom Rap

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Ano: 2021
Selo: Paris Texas
# Faixas: 8
Estilos: Rap
Duração: 21'

Quando novíssimos artistas surgem, geralmente há uma escassez natural de informações além do release. Nesse caso, a falta destes recursos por parte dos rappers californianos do Paris Texas é intencional e conceitual. Na bio do perfil da dupla no Instagram, há apenas coordenadas que levam a cidade de Paris, no Texas – em referência ao melancólico e intrigante filme de Wim Wenders feito em 1984. Uma ordem de serviço junto a crachás de identidade falsa e um pequeno vídeo em que um homem estranhamente tranquilo observa uma cena de suicídio serviram como teasers do disco. O duo californiano faz o ouvinte mergulhar em BOY ANONYMOUS (2021) por meio da investigação dessas pistas, tal qual faríamos caso fôssemos parte da turma do Scooby-Doo.

No universo construído minuciosamente por Louis Pastel e Felix, a Máquina Mistério é substituída por outra van: o veículo branco da empresa fictícia Ditch-Made. “Solitário, amoral e vagabundo” – esse é o perfil de funcionário buscado pela companhia, que oferece um tipo muito específico de serviço: limpar a cena do crime de serial killers e assassinos de aluguel sem tempo para dar uma geral na bagunça. Através de uma série de vídeos partindo do curta-metragem “ORIENTATION”, temos o contexto para o ingrato trabalho da dupla na empresa.

Definir a dupla Paris Texas como “o novo fulano” ou “o novo ciclano” pode ser limitante, mas é inevitável traçar paralelos. BOY ANONYMOUS soa como uma preciosa colcha de retalhos e faz parte da mesma onda de Bedroom Rap do BROCKHAMPTON, por exemplo. A dupla também traz riffs e baterias no estilo Jean Dawson e Kenny Hoopla — no fim, todos estes nomes fazem parte de uma geração de garotos negros que cresceram ouvindo Rap, mas também Shoegaze e Alt-Rock. Apesar desse norte, é importante ouvir o pequeno disco do Paris Texas de coração e ouvidos abertos.

“I don’t go outside, bitch, I’m a hermit / You got socked, now you lookin’ like Kermit” rima Felix em “PACK 4 DA LOW”. Barras simples, mas muito divertidas, que vão do jogo Team Fortress até o anime Jojo’s Bizarre Adventure, entre outras nerdices, são uma constante no trabalho da dupla. O Paris Texas (e principalmente Louis, que também é produtor) está mais preocupados em transmitir energia, em detrimento de com malabarismo técnico – então não vá esperando versos de cair o queixo.

Músicas como “BETTER DAYS” e “AREA CODE” tem batidas cósmicas que colocam a dupla próxima de Man of The Moon, acenando para Kid Cudi através da janela da espaçonave. “SITUATIONS” e seu marcante baixo apresenta o aspecto sardônico do Paris Texas, com um vídeo incrível de visuais de Playstation 1 no qual eles saem numa briga de foice com a própria morte. E se ao invés de “Jazz (We’ve Got)” o A Tribe Called Quest tivesse feito “Rock (We’ve Got), o resultado seria semelhante a “HEAVY METAL” ou “FORCE OF HABIT”, excelente faixa que fecha o projeto. De refrão extremamente pegajoso, ela é imbuída de uma urgência de quem quer mudar de vida com rap.

“Paris Texas next best thing/ Might get that tatted on my teeth”, reflete Felix em “CASINO”, primeira música de BOY ANONYMOUS. Embalado por esse charme do Bedroom Rap e da autenticidade advinda da liberdade que esse processo permite, o disco de estreia da dupla aponta para horizontes amplos. Assim como o mistério, o perigo de ser “o novo fulano” sempre há de pintar por aí. Agora, a dupla precisa trabalhar em um bom e original trabalho de sequência se deseja atingir um patamar ainda mais elevado e consagrar-se como a nova grande parada nos nossos fones.

(BOY ANONYMOUS em uma faixa: “HEAVY METAL”)

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ARTISTA: Paris Texas