Resenhas

Patrick Wolf – Sundark and Riverlight

Cantor foge de suas raízes eletrônicas e fornece uma coletânea acústica que reimagina diversas de suas canções

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Ano: 2012
Selo: Bloody Chamber Music/Essential Music
# Faixas: 16
Estilos: Folk, Pop Folk
Duração: 60:00
Nota: 4.0
Produção: Patrick Wolf

Patrick Wolf é um menino prodígio. Em pouco menos de nove anos de carreira, gravou cinco discos de estúdio e alcançou um grande status diante do público. Durante sua adolescência, sofreu bullying de seus colegas devido à sua excentricidade e seu comportamento “afeminado”. Sem saber se era gay ou bisexual, e diante de tanta confusão interna e falta de compreensão do seu colégio, acabou encontrando na música a sua forma de expressão. O seu passado é evidente no som que, ao longo de sua carreira, Wolf procurou demonstrar: teatral e expansivo.

Sundark and Riverlight, no entanto não é um disco de inéditas do músico, mas de regravações de canções de sua carreira em um formato acústico e mais íntimo. Mais que uma coletânea de luxo, o álbum é duplo, em que Sundark apresenta uma atmosfera, segundo Wolf, “mais solitária e escura”, enquanto Riverlight é “mais esperançoso e aborda relacionamentos”. Lados antagônicos, mas que valorizam o lado teatral do músico, e com uma nova roupagem que nos faz lembrar de um estilo romântico e quase shakesperiano de se cantar.

Sundark contém músicas de diversos álbuns, mas concentra-se sobretudo em seu quarto e elogiado álbum, The Bachelor. Canções como Oblivion, Vulture e Hard Times ganham uma nova cara, mais intima e pessoal, surpreendendo muito. A terceira é, de longe, um dos melhores momentos desse “lado” da obra, trocando a batida rápida da música original por um violão que causa a mesma sensação. No entanto, os violinos, presentes em ambas versões, ganham muito mais intensidade nesta canção, que poderia muito bem integrar algum filme romântico medieval.

Paris, música de Lycanthropy e que encerra Sundark, transformou-se em quase uma nova composição. Wolf canta em um estilo trovador, contando uma história que parece ter corrido por séculos através de diversas pessoas. No entanto, é o próprio cantor declamando uma história pessoal e que ganha tanta sinceridade e teatralidade nesta roupagem que somos levados a um palco em que os refletores reluzem sobre Wolf, enquanto o mesmo atua.

Enquanto o primeiro lado realmente soa muito mais pessoal e calmo com tons mais cinzentos, Riverlight nos leva a um turbilhão de emoções mais alegres através de um lado teatral mais semelhante aos musicais ou filmes da Disney, por exemplo. The Magic Position e Bermondsey Street são duas músicas que poderiam muito bem servir como cenas de transição dentro de tais narrativas, explicando a relação entre personagens e coisas do genêro. A voz mais calma e aparentemente mais livre de Wolf nesse disco demonstram as suas reais capacidades como cantor e condutor de um grande espetáculo.

Together, que inicia a segunda parte, troca as batidas eletrônicas da faixa original por guitarra espanhola que muda totalmente o sentimento passado. Transforma-se a música, deixando-a muito mais sexy com seus belos violinos ao fundo. A voz de Patrick não mais se esconde diante de argumentos eletrônicos, se mostrando uma das melhores versões acústicas da obra.

Quando Wolf resolveu fazer este disco com singles e algumas músicas favoritas de seus fãs, ele disse que precisava demonstrá-las de forma crua, como deveriam ter sido feitas inicialmente. Disse ainda que seria divertido que aos 28 anos ele pudesse cantar novamente músicas que faziam sentido para ele durante a sua adolescência. Como ode contrária a um mundo cheio de autotune e composições eletrônicas, o músico acertou em cheio ao criar um disco duplo que, acima de tudo, é belo. Caso você desconheça a obra deste talentoso músico, esta é a grande oportunidade de conhecer pelo menos um pouco de suas grandes canções, mas em um formato que se mostra ainda melhor que o original em diversos momentos.

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BOM PARA QUEM OUVE: St. Vincent, Madrid, David Byrne
ARTISTA: Patrick Wolf
MARCADORES: Folk, Pop Folk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.