Resenhas

Pearl Charles – Magic Mirror

Em seu segundo disco, californiana aposta no Pop/Soft Rock dos anos 1970 e cria atmosfera nostálgica e familiar

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Ano: 2021
Selo: Kanine Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop, Pop Alternativo
Duração: 37'

Dia desses, ouvindo o sample de “We’ve Only Just Begun” no novo do The Avalanches, fiquei pensando em The Carpenters e em como é interessante que aquela sonoridade Pop feita com banda completa é hoje tão datada (qualquer música da banda grita que é dos anos 1970) quanto ainda é muito comum, até mesmo no meio alternativo. É uma atmosfera amigável, familiar a qualquer um que tenha crescido nessas últimas décadas com alguma exposição à cultura ocidental. É a “canção de amor” que abastece e continuará abastecendo emissoras de rádios, trilhas sonoras e sessões de karaokê por um bom tempo.

Magic Mirror tem muito disso em cada microssegundo de suas músicas. Pearl Charles, legítima representante desse som disseminado na Califórnia – onde nasceu e cresceu –, brinca de viver uma época que só conhecemos pelas lembranças dos outros ao longo de 10 músicas. Ecos de Fleetwood Mac, ABBA e, é claro, a já mencionada The Carpenters dominam toda a obra, dotada da ingenuidade natural que essa estética possui. Em um espectro referencial que vai de Sophie Ellis-Baxtor a Lana Del Rey (duas cantoras conhecidas por inspirações nostálgicas), Pearl está bem mais próxima da primeira, embora, pelo tom confessional de seus versos, pareça querer dialogar com o público da segunda.

A abertura “Only for Tonight” apresenta sua vulnerabilidade ao narrar uma história sobre se apaixonar acidentalmente quando a ideia era viver apenas uma noite. A narrativa é leve, quase bem-humorada, conduzida por um aspecto dançante com piano que lembra a clássica “Dancing Queen”. Na sequência, “What I Need” evoca a dinâmica de baixo e bateria de outra faixa icônica, “Dreams” (Fleetwood Mac), e um clima easy listening de riffzinho simpático fecha a trinca de inspirações retrô com “Imposter” e seu timbre de sax adornando o refrão. Isso tudo só nas primeiras três faixas.

Se “Don’t Feel Like Myself” e “Magic Mirror” fariam Karen Carpenter sorrir de orgulho – a faixa-título, aliás, traz até os mesmos trejeitos da vocalista –, músicas como “Take Your Time” e “All the Way” poderiam parecer comuns demais até mesmo na época da artista, falecida em 1983, quanto mais hoje em dia. A cartilha do Pop retrô é seguida à risca sem o charme de nomes como Natalie Prass e Haim, por exemplo, que também apostam nesse olhar para o passado em suas composições. Diferentemente, o disco se embebeda de suas próprias referências a ponto de soar como pastiche.

Essa afirmação pode parecer um tanto dura quando notamos a qualidade dos arranjos e da produção de Magic Mirror, mas seus méritos técnicos não dão conta de sustentar a obra nas costas – “Slipping Away” e “As Long As You’re Mine” ficam mais legais fora do contexto do álbum, mas se tornam cansativas ao lado de algo como “Sweet Sunshine Wine”. Essa e suas demais companheiras de repertório padecem do mal de serem músicas que já estamos cansados de ouvir antes mesmo do play.

É o lado negativo da tal “familiaridade” dessa linguagem. Se existe a ideia de que apostar em um ar de atemporalidade garantirá uma maior longevidade da obra, o disco nos relembra que há também o risco das músicas não serem nostálgicas em seu lançamento, mas já nascerem velhas.

(Magic Mirror em uma faixa: “All the Way”)

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ARTISTA: Pearl Charles

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.