Resenhas

Pedro Flores – Pedro Flores

Primeiro disco do mineiro traz sensibilidade Folk aliada à amargura do Rock Triste

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Ano: 2016
Selo: Geração Perdida
# Faixas: 8
Estilos: Folk, Singer-Songwriter
Duração: 32:00
Nota: 3.0
Produção: Pedro Flores

Pode soar pretensioso mas, de certa forma, a Geração Perdida de Minas Gerais é uma continuação anacrônica do Clube da Esquina. Gêneros a parte, a proposta do coletivo de Milton Nascimentos e os irmãos Borges de juntar grandes amigos em um ambiente musicalmente fértil, como uma rede de apoio e parcerias, foi o cerne que a nova geração se agarrou com força, principalmente quando vemos as demonstrações de afeto em redes sociais do dito Rock Triste. Além disso, a sinceridade também é uma característica forte emprestada do Clube da Esquina, pois cada obra lançada pelo coletivo revela ser uma parte das percepções dos jovens mineiros sobre suas respectivas vivências. Desta vez, o microfone passa para Pedro Flores e, contrário a seus amigos, as coisas não são tão Rock, mas certamente são tristes.

Pedro Flores troca a guitarra por uma viola caipira, sua fiel companheira até a palhetada final do disco. Apesar da sonoridade alegre que suas oito composições aparentam ter, estamos diante de um trabalho duro, no sentido mais agressivo – agressão sutil, pois é um misto de crítica, indignação e conformismo. Já dá para perceber o tom do trabalho na primeira faixa, Belo Horizonte, cujas primeiras palavras comparam a capital mineira a um ovo podre.

Céu Azul é uma crônica cínica, com melodias repetitivas que reproduzem o tédio do jovem, fazendo jus ao verso “mas tudo é tão igual, sempre é tão igual”. Pedro também é influenciado pelos acontecimentos políticos, relatando de forma quase jornalística os fatos que levaram à prisão do senador Eduardo Suplicy. Ocaso, por sua vez, traz acordes um pouco mais tensos, remoendo sobre as suas desesperanças da conturbada cena política e seus desdobramentos, recorrendo a metáforas bem sutis. Por fim, Aos Dezessete expõe de modo cru seu primeiro contato com a morte, desde o choque com fragilidade da vida até todos os questionamentos que permearam na cabeça do jovem.

Pedro Flores carrega bem a responsabilidade de se trabalhar junto à Geração Perdida de Minas Gerais, expondo suas impressões de maneira sincera e direta. Um ouvido desconhecido das modas de viola poderia desistir de escutar este disco facilmente, mas as letras quase jornalísticas de uma mente extremamente ansiosa e pensativa deixarão estas mesmas pessoas intrigadas com o particular e amargo universo de Pedro.

(Pedro Flores em uma faixa: Aos Dezessete)

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BOM PARA QUEM OUVE: Almir Sater, Bright Eyes, Bob Dylan
ARTISTA: Pedro Flores
MARCADORES: Folk, Singer-Songwriter

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique