“Alegria” não era o bastante para Pélico descrever seu terceiro álbum, daí chamá-lo de Euforia. A obra vem, no entanto, com uma felicidade muito mais comedida do que alguém poderia esperar a partir desse nome, que mostra-se eficaz quando comparado aos outros lançamentos da carreira do paulistano.
O Último Dia de um Homem sem Juízo (2008) é visceral, Que Isso Fique Entre Nós (2011) é melancólico e o novo é, acima de tudo, leve. Ainda assim, isso não quer dizer que ele não traga um espírito sentimental que transita entre diferentes emoções, incluindo as mais negativas. A resposta a elas é, porém, mais direta e menos autocomiserativa.
“Insisto em dizer que ainda é possível supor que em toda dor more uma alegria”, canta Pélico na faixa-título, e você percebe seu sorriso ao cantar “e não me falta a coragem de ser o que sou, porque sou sonhador dos meus dias” no mesmo refrão. Escrevo e Meu Amigo Zé (feita para Tom Zé) continuam no mesmo espírito de domar a tristeza sem precisar ter medo da melancolia, o que parece ser o tema central do álbum.
Para isso, o cantor transita por outros tempos (com uma estética vintage e sintetizada anos 1980 em diversas faixas e o samba das rodas aos sábados que frequentava na infância e adolescência na ótima Você Pensa que Me Engana) e outras geografias, citando Rio de Janeiro (Meu Amor Mora no Rio) e Moçambique (na – essa sim – eufórica Sozinhar-Me). O interessante é que esse deslocamento não vem como fuga, mas como inspiração ou resgate de forças pra enfrentar o que vier pela frente agora.
Sua poesia continua afiada e sua interpretação, certeira. Comparado aos seus trabalhos anteriores, Euforia continua a proposta de registrar um momento não só na carreira, mas na vida de Pélico, embora a obra em si pareça estar um degrau abaixo na força de sua identidade, ou mesmo em carisma. Contudo, faixas como Olha Só, Overdose e Sobrenatural tem tudo pra deixar seu público, no mínimo, feliz.