Não poderia haver um título mais apropriado para o novo registro da banda mineira Pequeno Céu do que Sargaço. O nome faz referência a tipos de algas marinhas que, em diversas vezes, tendem a formar colônias próximo do encontro das águas do mar e os rios. É desta definição que a banda tira o fundamento principal para o disco: cada organismo tem sua forma de funcionamento próprio e um metabolismo com rítmo próprio, mas quando colocados juntos, vivem em harmonia e, além do mais, trabalham em conjunto para formar algo maior. Muito maior.
Durante as sete músicas, os sete integrantes mostram talento e domínio total dos instrumentos que tocam, fazendo assim com que o disco tenha uma solidez ímpar, tanto na estrutura das faixas quanto na proposta do disco como um todo. Com uma variedade diversa de ritmos, seria possível imaginar que Sargaço se trataria de um disco confuso ou sem conceito. Mas é justamente aí que Pequeno Céu traz sua essência-mor: a celebração e harmonia das diversas referências apreciadas por cada integrante. Aqui, a desunião é algo positivo, e cada faixa é uma surpresa, podendo passar do Post-Rock para o Math Rock em questão de segundos. É aí que a metáfora das algas entra.
Embora cada faixa tenha um gênero que observamos mais claramente, é possível ver que, por fazerem parte desta colônia de sargaços, a presença de outros gêneros no disco impossibilita que estabeleçamos barreiras para as dividir concretamente. Em outras palavras, cada música tem um pouco de outra em si. Se Quatrocomeça como uma típica ambientação Math Rock, logo menos algumas percussões entram em cena dando um suíngue atípico para o gênero, mas que funciona muito bem. Igual Parênteses dá a dica de uma guitarra bem brasileira, mas a partir do momento que mais elementos são somados, tudo parece confluir para um Post-Rock com toques de Progressivo.
Sargaço é um ótimo momento para a banda, que mostra como nunca a certeza que tem de sua identidade. Com uma produção impecável, Pequeno Céu abre as portas para todo o tipo de fã de música poder adentrar nesta colônia de gêneros e rítmos.
Nadar em meio a algas nunca foi tão prazeroso.
