Resenhas

Pet Shop Boys – Super

Dupla inglesa mantém boa forma com novo álbum

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Ano: 2016
Selo: X2
# Faixas: 12
Estilos: Technopop, Eletrônico, Pop Alternativo
Duração: 46:33
Nota: 3.5
Produção: Stuart Price

Pet Shop Boys, para usar uma expressão cara aos economistas, vem numa “curva ascendente” em termos de criatividade. Este quesito, tão presente em seus álbuns entre 1985 e 1995, parecia ter deixado a dupla na mão para sempre, algo que era motivo de grande lamentação. No entanto, desde o inesperado Elysium (2012) e o belo Electric (2013), Neil Tennant e Chris Lowe exibem uma desenvoltura tecladeira e compositora invejável. Com pouco mais de 30 anos de carreira, Pet Shop Boys ainda corresponde a uma importante grife de Technopop, algo que foi forjado na época em que o estilo era algo natural e não parecia o objetivo estético de dez entre dez artistas de música Eletrônica dos nossos dias. Assim como New Order, seu parceiro contemporâneo de beleza melódica sintética, em seu mais recente álbum, agora a dupla londrina entrega seu 13º álbum de inéditas, mantendo sua maré atual de vigor criativo.

Fazendo jus à tradição de hitmaker da dupla, Super é um disco com várias canções prontas para tocar no rádio. Antes que falemos delas, é bom lembrar que, assim como o último álbum de New Order, Music Complete, este disco de Pet Shop Boys conta com a produção esperta de Stuart Price. O trabalho dele não é novidade para Tennant e Lowe, que já haviam entregado a pilotagem de estúdio para ele, justamente nos dois álbuns anteriores, que acusaram a gradativa recuperação da forma por parte do duo. Price, com a tarimba de quem produz desde duplas de Technopop a mega astros como Madonna e bandas de Rock espertinhas, como The Killers, sabe muito bem o que fazer e deixa Tennant livre para colocar sua voz entediada da melhor maneira, bem como permite que Chris Lowe solte a imaginação em suas programações de bateria, seus sintetizadores – sempre elegantes – e seus arranjos, estes a grande marca registrada da dupla.

O grande barato de Super é, justamente esse: deixar PSB ser PSB, sem tentativas de modernização vazias, tendo em mente que sua música, novamente é atual, por conta deste tempo em forma de rocambole. E não há necessidade de timbres ou texturas novas, uma vez que estas, quase sempre, existem visando reproduzir as do passado, totalmente dominadas pela dupla. Mesmo assim, há espaço para pequenas surpresas. A latinidade de Twenty-Something é totalmente sintonizada com essas misturebas da música Pop atual, mas tal dado surge com um viés totalmente próprio da dupla, com sua visão crítica e galhofeira de humor britânico. Há outros momentos adoráveis de autorreferência e de modernidade espontânea ao longo de Super. Senão, vejamos.

Groovy, a quarta faixa, é, na opinião deste que vos escreve, a melhor canção do álbum. Riff hipnótico de piano herdado da House Music, batidão percussivo sem dar tréguas, melodia bela e arranjo luxuoso por todos os lados, fazem dela um primor da lavra petshopboyana de composição. O single The Pop Kids é outro exemplo de faixa elegantérrima, cheia de teclados dando o clima e aquela coisa dançante que vem surgindo, mas que não permite a pulação pura e simples, exigindo alguma atenção às letras e aos detalhes dos instrumentos. A programação de bateria aponta para uma outra canção deles, It’s Alright, do álbum Introspective, de 1989. Happiness é mais invocada, com mais ênfase no potencial hipnótico das batidas e efeitos que na melodia, propriamente dita. The Dictator Decides é uma daquelas maravilhosas criações do duo que resvalam na música clássica en passant e se valem de uma pompa intencionalmente decadente para redefinir ironia e drama em doses controladas. Pazzo é mais objetiva, quase simples demais, com o objetivo único de fazer dançar, enquanto Inner Sanctum tem batidas em crescente, sistema de bate-estaca sob controle, uso de teclados como chuveiradas em câmera lenta e ambiente de festa em lugares amplos.

Undertow é a mais perfeita atualização da estética “petshopboyana”, onde melodia, batidas e vocais são catapultados para 2016, num movimento inegavelmente natural, porém deixando para os mais velhuscos a certeza de que algo ficou lá por 1986. Saad Robot World tem levada mais desacelerada, algo que muda totalmente na faixa seguinte, Say It To Me, com teclados Europop e condução elegante, tradicionalista e bem acabada. Burn e Into Thin Air fecham o álbum com os dois lados da moeda sonora da dupla: são elegantes, bregas, exageradas, bem construídas, cheias de detalhes.

Super é altamente indicado para quem entende a música eletrônica como veículo capaz de comportar extravagâncias e genialidade. A música de PSB segue exagerada, pretensiosa e firme em sua proposta de gerar criações luxuosas e cafonas, tudo ao mesmo tempo. Discão.

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BOM PARA QUEM OUVE: The Killers, New Order, M83
ARTISTA: Pet Shop Boys

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.